João César das Neves polémico como sempre apresentou-nos o seu livro “Princípios de Economia Política”
Esta é a obra mais recente do economista, conhecido pelas suas opiniões diretas e por ter sido “Conselheiro para os assuntos económicos” do ex-primeiro ministro e atual Presidente, Aníbal Cavaco Silva.
Estivemos à conversa com o autor que nos falou do conteúdo desta obra e do futuro económico de Portugal.
A população portuguesa, no seu geral, percebe o que é a economia política e os seus princípios?
Sim e Não. As pessoas sentem e reagem à economia, todos os dias. São excelentes economistas nas coisas do dia-a-dia, como decisões de compra e venda. Por outro lado, estão convencidas de que são ignorantes na economia e acreditam que as coisas mais influentes das suas vidas se regem por outras regras.
Temos também de ter em conta que existe muita informação e desinformação. Há pessoas que, desde o início da crise, identificaram um mal qualquer e estão constantemente a culpar por tudo o que acontece. Quando falamos em política monetária ou questões bancárias, aí sim, existe muita falta de conhecimento.
Queremos desmistificar e mostrar que as coisas são muito mais simples do que parecem.
É também para simplificar que dá exemplos no livro como “o autocarro” para explicar questões económicas…
Sim, os princípios de economia são muito simples mas as pessoas convencem-se que “não pode ser assim tão simples”, abandonando essa ideia. É nesse momento que as coisas se complicam.
No livro, afirma que falta conhecimento aos gestores. Estamos a falar de um número significativo de gestores?
Eu conheço muitos empresários com negócios que estão a correr bem mas que se mostram muito angustiados com a ideia de crise de que ouvem falar. Costumo dizer, em conferências que faço com gestores, para estes “fecharem a janela e abrirem o correio”. Para deixarem de ouvir tudo o que ouvem e para verem a realidade em que se encontram no seu negócio.
Afirma que a sociedade rege as suas decisões pela tradição, pela autoridade e pelo mercado. Como é que funciona este esquema?
É importante perceber que a organização da sociedade tem a ver com estes três níveis. Primeiro tem a ver com os hábitos e com as famílias. Depois tem a ver com ‘quem manda’, como o chefe, o polícia ou o professor na aula.
Portugal está muito apoiado no Estado para resolver os seus problemas. Cada sociedade tem a sua cultura e esta é muito diferente de país para país. Temos de nos focar nas imensas capacidades que temos e conhecê-las para depois, através da tal autoridade (da lei), para fazer com que as coisas funcionem.
Porque é que damos tanto poder ao Estado?
“Somos muito paternalistas. Gostamos muito do Estado a tomar conta. Preferimos a segurança à liberdade e o apoio à iniciativa”.
Os portugueses são muito socialistas. Até as pessoas que fazem disparates e quem comete crimes pedem ajuda ao Estado para resolver os seus problemas.
Somos também muito “cientistas”. Precisamos de teorias que comprovem como é que as coisas têm de funcionar. Não queremos viver sem o Estado mas estamos sempre desconfiados em relação a ele. Funciona como um “bode expiatório”. Esta situação era pior antigamente, no entanto, ainda se pode melhorar.
Qual é o futuro de Portugal, a nível económico?
Os desafios são muito claros. Assim que caiu a crise, as poupanças das famílias, que eram de 5%, subiram para 10%. A meio da crise, com as famílias a apertarem o cinto, as poupanças desceram novamente para os 5%. Muitas pessoas já estão aliviadas porque a crise acabou mas esta ideia não corresponde à realidade.
Há dois cenários possíveis: o nosso irrealismo pode trazer a troika daqui a cerca de um ano. O que não é propriamente mau para impor juízo. Por outro lado, existem empresários sérios que podem levar o país para a frente.
Livro Principios de Economia da editora