Miguel Montenegro é mestre em “Psicologia Clínica” e tem uma pós-graduação em “Ética, Direito e Pensamento Político”. Também podemos falar dele por ter concluído uma licenciatura em apenas 2 anos. Para além de tudo isto, Miguel é conhecido como criador e ilustrador dos “Psicopatos”.
Este trabalho traduz-se em tiras humorísticas e satíricas que personificam situações através de patos. Miguel Montenegro usa este “conjunto de personagens que representa a pessoa comum com bom senso que, no dia-a-dia, se vê confrontada com muita incoerência, com muita loucura”. A personagem principal destas tiras é Patareco, um estudante de psicologia.
Foi durante o mestrado que este ilustrador e psicólogo começou a fazer as tiras. O próprio acrescenta que “como falávamos de coisas mais profundas no mestrado, algumas com as quais eu não concordava totalmente, comecei a ironizar nas tiras alguns dos assuntos falados. Não peguei em nada que tenha acontecido concretamente”. Apesar de tocar em assuntos lecionados no seu curso, a sátira apenas foi verdadeiramente criticada por um dos seus professores.
“Entre loucos, quem tem juízo é pato” é o lema das histórias produzidas por Miguel. O autor recorda quando o senhor reitor do ISPA lhe pediu para realizar um conjunto de tiras sobre as “ciências” psicológicas para comemorar o cinquentenário da instituição e foi, a partir daí, que o trabalho dos “Psicopatos” começou a ser ainda mais sério.
O ilustrador evita falar na crise e de política. Como diz, “se o faço é de forma muito generalizada”. Trata de assuntos de “Psicologia, a institucionalização das pessoas, o internamento compulsivo”, entre outros temas como as doenças mentais e a psicoterapia. Acaba por tocar em dogmas o que, por vezes, gera críticas ao seu trabalho por estar a mexer “com as crenças enraizadas nas pessoas”.
Falando de doença mental, tema tratado neste trabalho, Miguel acredita que todos “têm direito a tratamento no sistema nacional de saúde. No entanto, estes tratamentos são de curta duração porque há muita gente à espera”. Ao mesmo tempo, quando as pessoas fazem consultas através do sistema nacional, “quanto menor é o custo também existe menos comprometimento”.
O autor defende a ideia de que os problemas mentais são criados por problemas que as pessoas estão a viver em determinado momento e, por isso, a sociedade tem de “desconstruir a importância dos problemas. Nada é assim tão importante como nós julgamos que é. O mundo continua a girar apesar do que está a acontecer”. "Tento pensar naquilo que está por trás do que estamos a ver. Ver para além daquilo que nos é dado de forma óbvia. Acho que o problema da sociedade é deixarmos os outros pensarem por nós”.
Sobre o que será o próximo livro dos “Psicopatos”? De uma coisa podemos ter certeza: Miguel Montenegro ainda não está cansado de criar estas tiras e afirma que “não faltam temas e formas diferentes de falar de temas já abordados”.
E alegrem-se os fãs dos psicopatos porque dentro em breve estará á venda um segundo livro desta saga, no qual Patareco irá viver mais proezas psicológicas e sociais.