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Livro / ARX Portugal 1991-2015

A Arquitetura do nosso espaço


Incentivamos os nossos leitores a olharem à sua volta. A observarem o espaço arquitetónico que os envolve. Já alguma vez haviam pensado na importância da organização do espaço que nos rodeia? Falámos com o conceituado arquiteto José Mateus e percebemos o papel da arquitetura na sociedade portuguesa.


José e Nuno Mateus são os criadores do Atelier ARX. Os dois irmãos construíram este atelier em 1991, apesar de já trabalharem juntos nesta área anteriormente. O seu atelier é responsável pela construção de obras como o Fórum Sintra, o CRS Coimbra, ou o recente Mercado Municipal de Abrantes, entre muitos outros.


José Mateus falou-nos da importância do espaço que se apresenta perante o seu humano, uma vez que a “arquitetura tem caráter, tem natureza, tem identidade. Pode ser serena, poder ser tranquila, pode ser muito dinâmica. Quando a atravessamos são-nos induzidos vários estados de espírito”.


Mais uma vez, insistimos que os leitores observem o que os rodeia e reflitam: o que é que este espaço me transmite? Pensem. Afinal, este é o local onde habitamos ou trabalhamos todos os dias. Percorremos corredores, escolhemos a forma de organizar os nossos objetos ou até mesmo a decoração mas raramente paramos para pensar se aquele espaço nos está a transmitir o que precisamos de sentir.


Como refere José Mateus, as pessoas são muito diferentes entre si e existem necessidades básicas, que têm de ser satisfeitas, como a necessidade de ter abastecimento de luz em casa. Os arquitetos precisam de ter em conta o tipo de construção que estão a fazer: a quem é que esta se vai adequar. “Ser talentoso e desenhar bem é um clichê. São precisas muitas horas de trabalho (…). É preciso um grande trabalho de maturação”. Assim vemos que a arquitetura não é só a construção de um espaço com quatro paredes mas sim a realidade que vivemos no nosso dia-a-dia.


Como decidir o que construir? O criador do Atelier ARX dá-nos uma das questões chave que deve passar pela cabeça do arquiteto da obra: “o que esta arquitetura significa nesta cidade, neste momento da história?”. Não nos esqueçamos que a construção de um mesmo edifício deve ser diferente dependendo da época em que se enquadra. O espaço tem de ser redesenhado de forma diferente e adaptar-se às necessidades da atualidade.


José afirma algo que parece ser alarmante: “as pessoas conseguem ser menos exigentes na compra da sua casa do que na compra do seu tablet”. Mesmo quando estamos a falar de artigos com preços bastante distintos e de coisas de natureza bastante diferente.


Até há poucos anos, muita gente podia ter acesso a comprar casa, até porque havia muitas linhas de crédito. “Foi-se construindo muita coisa medíocre em Portugal”.

Atualmente, as pessoas que podem comprar casa são um universo muito reduzido. Os promotores têm muita dificuldade em encontrar casa. Para que haja interesse nas construções começaram-se a procurar arquitetos competentes. O arquiteto José Mateus afirma ainda que “hoje há muitos mais arquitetos mais competentes quando comparado proporcionalmente com tempos passados”.


As construções em Portugal têm ainda outra característica: A legislação que tem de ser tida em conta. É obrigatório colocar tomadas de telecomunicações por toda a casa, quando a pessoa pode até só querer ter televisão na sala ou usar internet wireless.

“As pessoas e as instituições, o país no geral não têm capacidade para suportar esta ambição”.


O nosso espaço estará realmente desenhado de forma adequada? Este é um desafio que se coloca: olharmos agora para o espaço onde trabalharmos e percebermos se devia estar organizado de outra forma. Observarmos o espaço onde convivemos com a nossa família e entendermos se o mesmo é eficiente: se existe espaço para convívio e se cada pessoa se poderá sentir à vontade neste ambiente. Reflita também com as pessoas que convivem consigo nestes espaços e perceba se há formas de os melhorar. O bem-estar deve estar sempre em primeiro plano.

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