“Planear e trabalhar para que as coisas aconteçam”
Marta Sousa Pinto é uma jovem de 25 anos com algo em comum com uma parte significativa dos jovens da sua idade: a dificuldade em encontrar emprego na sua área. Ela poderia ser só mais um caso de uma jovem licenciada à procura de uma saída para a sua vida profissional não fosse o facto de Marta se recusar a cruzar os braços. A sua paixão pela arquitetura já a levou a sítios como Japão, China ou Itália. Já a levaram a tirar um mestrado e estar a tirar um doutoramento. Mas vamos então por partes…
Como tudo começou…
Desde pequena que Marta se destacou pela sua singularidade: sempre foi calma mas não gosta de estar parada. Um pouco irreverente, “como podemos ver pelo cabelo laranja”, diz-nos a sorrir).
No Ensino Secundário estudou Artes e sempre gostou de fotografia e de escrita. Também por influência do pai, que trabalha em reabilitação urbana, acabou por entrar em Arquitetura na Universidade Autónoma de Lisboa, onde fez a Licenciatura e o Mestrado Integrado. Considera que os professores que teve, grandes nomes da arquitetura portuguesa, lhe deram ótimas bases para a sua formação em Arquitetura. Esta formação durou 5 anos. A estudante Marta estabeleceu que demoraria apenas 6 meses a terminar a Dissertação “inspirada nos temas simbólicos da luz e da sombra na Arquitectura (tendo Jun’ichiro Tanizaki como principal fundamentador destes temas), bem como na ruína e na ideia romântica criada por Simmel”.
Olá Japão!
O interesse pelo Japão já vinha de há muito tempo. Marta decidiu aventurar-se a contactar o ateliê do arquiteto japonês Fujimoto (Fujimoto Architects). Sem ter obtido resposta, em 2013 soube que o mesmo viria a uma conferência no Centro Cultural de Belém. Tratou de tudo: preparou o curriculum vitae e o portefólio e sentou-se na primeira fila da conferência. Ouviu Fujimoto e esperou por ele no fim da apresentação. Apresentou-se em japonês, língua que já tinha estudado. Depois de falarem, o arquiteto ficou com o seu portefólio e disse-lhe que a sua secretária a iria contactar. Ao abandonar a conferência, Marta viu várias pessoas que queriam falar com o conferencista e pensou que se todas elas quisessem entregar o portefólio e pedir estágio, ela nunca teria hipótese. Acabou por receber uma resposta 2 semanas depois, convidando-a para realizar o estágio no ateliê. E aqui começou toda a preparação: Marta entregou e defendeu a Dissertação de Mestrado e preparou um dossiê com todas as informações necessárias para “sobreviver” sozinha em Shinjuku (do qual deixou uma cópia em Portugal). Esta cidade tem 9 milhões de habitantes, quase tantos quanto Portugal tem no seu total. O estágio durou 3 meses. Não poderia ficar mais tempo pois não lhe deram visto para permanecer no país. Assim começou o seu sonho oriental.
O regresso a Portugal: caminhando “pela esquerda”
Em Portugal, continuou o estágio que lhe daria acesso à ordem dos Arquitetos, durante mais 6 meses. O mesmo foi realizado no Ateliê de Francisco Aires Mateus. Lembra-se de trazer consigo hábitos japoneses, como andar pela esquerda. Também se lembra da energia trazida da cidade com mais de 300 ligações de metro. Começou a sentir a crise, quando não via tanto trabalho quanto o que desejava. E acabou então por ir para Itália, onde trabalhou como arquiteta e consultora de materiais de construção. Nesta altura, não foi a tempo de se candidatar à Bienal de Veneza. No entanto, foi-lhe prometido o convite para outro projeto.
China: uma surpresa inesperada
E o convite inesperado chegou: a China. A Universidade da Nova Zelândia: “Unitec Institute of Techology” levaria Marta para a Universidade chinesa “Shandong Jianzhu University, como professora convidada. Este projeto, onde Marta Sousa Pinto já lecionou por duas vezes, consiste em levar alunos chineses, realmente interessados em desenvolver os seus conhecimentos sobre arquitetura, para a Nova Zelândia. Este país oferece uma formação mais completa. Marta diz-nos para ter em conta que “na China, eles não têm sequer acesso ao Google ou ao Facebook. Não têm acesso a conteúdos que para nós são muito fáceis de encontrar”. Os conhecimentos dos alunos chineses acabam por não ser, muitas vezes, equivalentes aos conteúdos lecionados na Nova Zelândia. Há alunos que acabam por ter de ingressar em anos anteriores ao que estão na China, quando são recrutados para o novo país.
O Prémio “Arquitectos Agora 2015”
A sua experiência no Japão valeu-lhe o prémio “Arquitectos Agora”, que recebeu em Junho de 2015. O Júri da Ordem dos Arquitetos descreve o trabalho apresentado por Marta Sousa Pinto como “um trabalho descritivo num texto muito poético, onde se destaca a postura de reagir às dificuldades que se advinham na profissão”. A arquiteta recorda-se com emoção de como foi receber este prémio. João Santa-Rita, Presidente da Ordem e antigo professor de Marta foi quem lhe entregou este reconhecimento. Neste momento, Marta Sousa Pinto ficou a conhecer uma conversa que os seus professores tiveram no momento de avaliar o seu projeto de curso. Santa-Rita estava reunido com Manuel Vicente, já falecido e com mais alguns dos seus professores. Manuel disse-lhes que tinha o pressentimento de que esta aluna chegaria longe. Declarações que deixaram a arquiteta ainda mais emocionada ao receber o prémio.
E como não há 2 sem três…uma obra do destino!
No dia em que recebeu o prémio “Arquitectos Agora”, a jovem deparou-se com um flyer do Doutoramento de Arquitetura do ISCTE-IUL. Sempre disse aos pais que iria ter o seu primeiro doutoramento concluído antes dos 30 anos. Acabou por se candidatar “por piada” e foi aceite neste doutoramento. Com a conclusão do mesmo, Marta pretende dar aulas de arquitetura, em Portugal ou no estrangeiro e pensa candidatar-se a uma bolsa de pós-Doutoramento, no Japão. Neste momento trabalha fora da sua área de formação mas nunca deixa a arquitetura de lado: tem também em mãos um projeto de reabilitação urbana de um T7, que será uma habitação temporária para estrangeiros.
O planeamento e o trabalho de Marta, bem como o apoio da sua família e do namorado, que ela salienta, têm realmente feito com que as coisas aconteçam.