É em momentos destes que gostava de saber pintar. As palavras não têm cor que chegue para expressar estas sensações em forma de imagem. Quanto mais sinto o universo em vez de o olhar mais o vejo. Mais sinto o seu movimento e a sua quietude. Mais me deixo engolir pela dança eterna de vibrações e frequências que juntas compõem a música que os ouvidos não ouvem mas que os sustém.
Somos uma espécie de massa vazia que, vista de mais perto, é luz cintilante e oscilante. Tudo se move harmonicamente num espaço que segura as notas, mesmo as mais graves e agudas, numa espécie de compasso que só o tambor de Shiva entende. Como um vento que não se vê mas se sente, dentro de cada corpo, à volta de cada corpo, em cada árvore, à volta de cada árvore, no cheio e no vazio, no som e no silêncio, luzes infinitas que se unem e se afastam sempre sem limite de espaço ou tempo, sempre perfeitas e integradas, sempre ligadas e impossíveis de dividir...dançam.....crescem, recolhem, emanam, expandem, abrem, fecham, renascem...cada vez com mais luz, cada vez com mais música, cada vez mais "perto" de se unirem ao espaço que as unifica.
O movimento constante da quietude, a infinitude do não-movimento que manifesta todas as formas, as formas que se fazem sentir através do silêncio e calma que as cria, é tudo uma música de átomos com notas em várias escalas, que se sobrepõem sem nunca se pisar ou empurrar umas as outras, cooperando numa co-relaçao perfeita e intricada, com verdade intrínseca, sem precisar de validação, de valor, ou de porquê. Existindo apenas....porque existência é o nome que lhe demos e que não sabe que tem.