Foi um processo complicado e cada vez que menciono esta história prendo sempre as minhas lágrimas. Tento sempre fazer parecer que sou forte mas temos de encarar as situações da melhor maneira possível. Nunca imaginei a minha vida fora de Portugal mas a única solução foi mudar de país e procurar por uma oportunidade de vida que nunca pude ter no meu país, Portugal.
Não foi decisão minha mudar de país. Os meus pais tomaram essa decisão e eu só os segui porque família era tudo o que eu tinha naquela fase da minha vida que nunca poderei esquecer. Desde que os meus pais se dirigiram a mim e me disseram que iríamos ter de nos mudar para Londres, a minha maneira de ser mudou completamente! Naquele momento não sabia bem o que pensar. Foi então que deixei andar. Poderia ser só conversa de momento…mas não foi isso que aconteceu.
Eu e os meus pais não estávamos bem economicamente. Academicamente estava bem e feliz: estava a tirar o meu primeiro ano de curso em Gestão mas isso teve de mudar drasticamente porque Inglaterra, Londres, foi a decisão final dos meus pais. Tínhamos muitas dívidas, muitos problemas que não conseguimos resolver. O meu pai foi para Londres primeiro, em Abril, a minha mãe foi em Junho e eu, por fim, em Agosto. Infelizmente, vi a minha casa a ficar gradualmente vazia e a saber que era a última vez que ia lá estar. A casa onde cresci.
Cheguei até a não ter comida suficiente no frigorífico ou na dispensa. Cheguei a ver os meus pais a fazerem montinhos de moedas de 1 euro na mesa de madeira da cozinha. Eu tinha 6/ 7 anos e essa imagem nunca me saiu da minha cabeça.
No dia 1 de Agosto de 2012 mudei-me para Londres. Posso sinceramente dizer que passei a viagem toda de avião a chorar porque não sabia o que me esperava aqui em Londres, que oportunidades eu poderia adquirir, não conhecia ninguém, não tinha amigos aqui, nada! Era só eu e os meus pais. Contudo, eles foram a minha rocha e nunca me deixaram desistir.
Sofri bastante, chorava à noite. Deixar os meus avós aqui era como se me estivessem a partir o coração. Há uma frase que nunca me sai da minha cabeça e que provavelmente me arrependo de a ter dito. Disse a minha mãe que ela estava a destruir a minha vida. Magoei-a, eu sei, eu senti, eu vi. Mas se a minha família tem uma coisa boa é o facto de saber que um problema pode ser sempre resolvido. Juntamo-nos os três e falamos sobre isso e tentamos sempre encontrar soluções, falar entre nós e ver o que isso pode contribuir para a nossa felicidade. Os meus pais nunca me esconderam nada, sempre falavam comigo e explicavam-me as coisas, como iam decorrer, o que poderia acontecer, e como teríamos de reagir. Quase nunca chorava nessa altura, poderia vir tudo mas eu sei o quanto valia e que ninguém me derrubava. Hoje em dia não é bem assim. Talvez porque me fechei mais. Desde que me mudei para Londres que me “guardei” mais e "falava" comigo mesma. Em vez de falar com os meus pais guardava para mim e então tornei-me mais sensível, admito.
As coisas gradualmente tomaram o seu rumo e eu consegui entrar num colégio e começar o meu curso. No primeiro ano eu só estudei inglês e nesse ano aprendi bastante porque quando vim para cá não sabia nada! Entretanto comecei o meu curso de Media, para me tornar jornalista. Tem sido a melhor experiência da minha vida. Tenho amigos, tenho um namorado, há 3 anos, que me apoia em tudo, uns pais que não poderia pedir melhor. Estou bem economicamente, tenho tudo o que em Portugal nunca tive, felicidade e uma vida estável.
Eu mudei bastante. Fui obrigada a tornar-me mulher muito cedo porque os meus pais não sabiam nada de inglês e eu tive de tratar de tudo aqui. Mudei a negatividade que trouxe de Portugal para positivismo. Comecei a aceitar todos os desafios que me aparecessem à frente e competi num concurso em que fiquei em primeiro em dança. Desde então, tenho tido oportunidades constantemente em que faço questão de aceitar e completar com sucesso. Tenho vários trabalhos, tenho uma casa, comida, amigos, namorado e uns pais maravilhosos.
Trabalho com crianças espetaculares, as quais me afeiçoei muito e daí gostar tanto do que faço. Trabalho como professora de educação física, professora de dança e professora de ginástica acrobática e artística. Adoro o que faço, aprendi muito, tanto em termos técnicos como em termos de aperfeiçoamento do meu inglês. Cresci mais e tornei-me mais independente, o que me agrada bastante. Sempre fui muito independente dos meus pais, nunca gostei de pedir-lhes coisas. Sempre quis ter os meus meios de adquirir as minhas coisas sem ter de pedir e ter essa possibilidade agora é muito bom.
Nunca pensei poder dizer isto, mas sim, finalmente estou feliz. Londres tem-me dado várias oportunidades e eu nunca irei negar uma, mesmo que isso signifique que tenha de me manter ocupada de Domingo a Domingo, que é o caso. Agradeço aos meus pais pela coragem e força que sempre permaneceu entre nós. Devo-lhes a eles tudo isto. Vejo um futuro agora, vejo uma janela aberta lá no fundo, que faço questão de manter aberta todos os dias mesmo que chova, pois na vida temos que aceitar tanto as coisas más como as coisas boas. E são as coisas más que me fizeram e fazem mais forte a cada dia que passa.
Falando agora em termos académicos, eu quero ser jornalista. Adoro escrever e, por isso, criei um blog. Neste, eu falo sobre estilo de vida, beleza e fashion. Não me limito a um simples tópico porque gosto de escrever. Às vezes, estou na minha cama ou na minha mesa e recebo mensagens a darem opiniões sobre o meu blog - para continuar e nunca parar de escrever. Já tive pessoas que me elogiavam pela maneira de encarar as coisas e davam-me força. Acho que quando crio ‘posts’ sobre fashion ou beleza, tenho um número mais alto de visualizações nas estatísticas, talvez porque seja um tópico que interessa a toda a gente. Ter criado o meu blog proporcionou-me ainda mais oportunidades e não poderia estar mais feliz. Mais uma vez repito que ter mudado a minha vida 360 graus foi a melhor coisa que me aconteceu.
Endereço para blog de Ana Oliveira:
http://anaaoliveira003.blogspot.co.uk