“Não tens animais? Não mas a minha avó tem e dá-lhe cada pontapé!”.É este tipo de frase, saída diretamente da boca de uma criança, que leva a presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal a afirmar que ainda é preciso educar a população portuguesa. Estivemos à conversa com Maria do Céu Sampaio para conhecer melhor o trabalho da LPDA, dividido em três grandes áreas: divulgar, sensibilizar e educar.
Decorria o ano de 1981 quando surgiu esta Liga que, na altura, trabalhava principalmente na área dos animais de companhia. Em Portugal, as associações existentes já trabalhavam os assuntos referentes a este tipo de animal e, por isso, a LPDA tencionava abranger todos os temas relacionados com vida animal, de companhia ou não. Enquanto outros países europeus se deparavam com problemas como a produção massiva de animais para consumo ou o teste de cosméticos em animais, Portugal (com Espanha e Grécia) debatiam ainda a questão dos animais de companhia. Este facto ficou comprovado nos anos posteriores à criação da Liga, quando esta se juntou aos debates internacionais para os direitos dos animais.
Maria do Céu Sampaio afirma que “Não precisamos de muitas leis. A lei de 1925 tem um parágrafo que diz: «é proibida a violência contra todos os animais». Já não era preciso mais do que isto”. No entanto, a presidente da LPDA afirma que a atual lei faz com que as pessoas pensem melhor antes de adotar. “Será que vou aguentar esta responsabilidade?” (é a pergunta que passará pela cabeça dos portugueses).
O deputado António Maria Pereira foi o impulsionador e criador da LPDA que, juntando um grupo de intelectuais portugueses, tentou dar voz à causa na Assembleia da República. Na altura, a LPDA tinha dificuldade em entrar nas escolas para falar sobre os temas relacionados com direito animal. Quando abriram portas à comunicação social sentiram que o interesse da população começou a surgir. A LPDA começava a ganhar visibilidade.
Hoje, são as escolas que convidam a Liga a falar com os seus alunos. A presidente Maria do Céu afirma que ainda estamos num processo de reeducar pois as crianças seguem os exemplos que têm em casa. “A maior sensibilização é para com animais de companhia. As pessoas não se preocupam muito com outros animais. Por exemplo, com os animais de consumo. O comunicado da Organização Mundial de Saúde vem falar de coisas que nós já sabíamos”.
“Porque é que não dizem à população para deixar de consumir tanta carne? Em vez de comer um bife de 200 gramas comam um de 100 gramas mas de carne de um animal criado ao ar livre”. Maria do Céu Sampaio acredita que não podemos dizer às pessoas para deixarem de comer carne pois as imposições não são bem aceites. Podemos, por outro lado, aconselhar a comer carne mais saudável, de animais criados ao ar livre, que vivem até à idade adulta e que estão menos sujeitos a antibióticos e farinha de crescimento rápido. Vejamos um exemplo: “se cozinharmos um frango criado ao ar livre e um frango criado em cativeiro, enquanto o primeiro está a cozer, o segundo já fica desfeito no mesmo período de tempo”.
A LPDA presta ainda um serviço de aconselhamento jurídico. Com a nova lei, existem cada vez mais queixas quanto aos maus tratos e abandono de animais. A presidente da Liga fala-nos em três tipos de queixosos: os que têm realmente razões para apresentar queixa, os que apresentam queixas sem fundamento e o grupo dos idosos que se sentem sozinhos e criam todo o tipo de reclamações só para poderem telefonar e sentirem-se acompanhados. Por isto, todas as queixas têm de ser apresentadas por escrito e terem testemunhas para terem continuidade. No entanto, as pessoas devem falar: quem quer apresentar queixa deve dirigir-se ao proprietário do animal e tentar falar para perceber a situação. Maria do Céu afirma que “falar” já resolveu mal-entendidos nestes processos.
No caso de pessoas com dificuldades económicas, a LPDA ajuda no fornecimento da alimentação para os animais de estimação destes agregados. É obrigatória a apresentação de um comprovativo da segurança social, afirmando que a pessoa em causa não tem um rendimento superior ao salário mínimo nacional.
Qual é a origem dos problemas que decorrem com os animais? Parece ser uma pergunta com uma resposta simples: “O ser humano tem de se valorizar mais a ele próprio e só assim começa a valorização dos outros seres vivos”.