No que respeita aos veterinários: “Estamos formatados para tratar doenças físicas e a questão psicológica é deixada para trás. Só começa a ser uma questão agora porque muitos abates acontecem por não se trabalhar o comportamento animal”.
Célia fala-nos do desgaste da profissão de veterinário. “É uma profissão que lida com vida e morte todos os dias. No entanto, até das coisas más temos de tirar algo de bom, nem que sejam aprendizagens”. O mais difícil para esta profissional é ter de decidir praticar a eutanásia num animal, quando já não há mais recursos possíveis. A veterinária é uma medicina principalmente preventiva e curativa e a questão do abate só pode mesmo ser pensada como último recurso. O que fazer para impedir que isto aconteça? Controlar a natalidade e aprender a gerir o comportamento animal evitando, assim, muitos casos de eutanásia.
Um veterinário acaba também por ser “um médico de família”. Os donos falam das suas vidas e vão à clínica até para contar aquilo que lhes vai acontecendo. Qual a importância destas conversas? Perceber o tipo de dono com que estão a lidar ajuda, muitas vezes, a perceber também a parte psicológica do animal.
As questões psicológica e comportamental foram, exatamente, componentes que explorámos na nossa conversa com Célia Palma. Existe falta de informação sobre como lidar com o comportamento dos nossos animais de estimação. No que respeita aos veterinários, é essencial falar sobre como atuar em relação ao comportamento da espécie logo na consulta do cachorro ou do gatinho. “O que acontece é que o veterinário está preocupado em atuar na área da saúde mas esquece-se desta componente”. Existe falta de formação e sensibilização por parte veterinários.
Sabemos que, nos primeiros meses de vida, os cachorros podem estar mais sujeitos a algumas doenças se forem levados à rua. No entanto, estes são também os meses mais importantes para o animal se habituar a socializar. “Os nossos animais estão mal socializados e acredito que uma das causas é exatamente começarem a sair à rua numa fase mais tardia”.
Os donos também precisam de conhecer melhor as espécies que adotam. “Não está certo humanizar um animal. Temos de ter um meio termo: dar carinho e os cuidados necessários mas temos de nos lembrar da espécie do animal. As pessoas sabem um pouco sobre cães mas sabem pouco sobre gatos. Por exemplo, quando os gatos atacam as pernas, as pessoas queixam-se, mas isso é o instinto de caçador, típico da sua espécie”.
O que leva, muitas vezes, as pessoas a decidirem se querem um cão ou um gato são decisões erradas. Por exemplo, escolhem ter um gato por este se dar bem num apartamento pequeno mas esquecem-se que ele também precisa do seu espaço.