"...Raramente durante o sono. Também nunca bebi ao pequeno almoço, embora certas noites longas tenham terminado ao raiar do dia. Eu gosto de beber gin sem horários. Preferivelmente depois do meio dia."
Sabe qual é a história desta bebida?, e se é daqueles que diz que com esta crise só consome produtos portugueses!! pois fique a saber que já temos gin português e do bom.
Desengane-se quem pensava que gin há só um e mais nenhum, embora este chavão possa estar certo para muitas coisas, pois não está, no caso desta bebida, à semelhança de outras bebidas, também esta se distingue por ter varios tipos.
E o modo como se prepara um cocktail de gin?
Garanto-vos que só a preparação deste é algo digno de se ver, a parafernália de utensilios especificos a usar e o protocolo que se deve seguir na sua preparação merece respeito.
E o que misturar com o quê? para resultar mais assim ou mais...... enfim é uma ciência.
Tudo o que gravita em volta do mundo que é o GIN está presente neste livro. E depois de o ler, a palavra GIN nunca mais vai ter o mesmo significado para si.
Mas quem sabe desta ciência e já se pode chamar de catedrático é Miguel Somsen, um dos autores deste livro e um dos fundadores da Gin Lovers.
Fizemos algumas perguntas, recolhemos opiniões e pedimos algumas sugestões a este entendido e o resultado foi este.
Como se pronuncia o nome desta bebida, djin ou simplesmente jin? Gin à portuguesa, o que significa que adoptámos a bebida como sendo nossa e não apenas uma importação de Inglaterra ou Países Baixos. Eu que sempre pronunciei à inglesa, não vejo qualquer razão para parecer snob agora. Gin à portuguesa, mas sem o M no fim.
O gin é uma bebida social? O que fomenta? O álcool fomenta o social. O Gin tem álcool, o que o faz ser social. Mas o álcool do gin não é muito (entre 37 e 42% por regra) e além disso tende a ser diluído na tónica. O que significa que é a cultura do gin tónico e não o álcool que fazem o Gin ser uma bebida social.
Para quem nunca provou gin, como aconselhas que deva ser a primeira vez? O maior problema é das pessoas que já provaram e dizem não gostar porque sempre o beberam à moda antiga (servido num copo de tubo com um gin de segunda categoria, mal equilibrado com gelo e tónica). São esses os maiores desafios. Quem nunca provou não precisa necessariamente de ser convertido, porque está de espírito aberto. Essa pessoa só precisa de saber se prefere um Gin mais tradicional (London Dry) ou mais floral. Por isso sugiro sempre provar mais do que uma referência e falar muito com bons bartenders em locais de confiança.
Há alguma altura do dia mais apropriada para beber gin? Sim. Raramente durante o sono. Também nunca bebi ao pequeno almoço, embora certas noites longas tenham terminado ao raiar do dia. Eu gosto de beber gin sem horários. Preferivelmente depois do meio dia.
O gin é melhor bebido puro ou misturado (como em cocktail)? O puro (tipo shot de vodka) é bom para o conhecer. E mesmo aí os especialistas sugerem uma diluição com água. Depois disso, passamos para os cocktails. Uma vez que o Gin tónico também é um cocktail (porque vive da mistura de dois ou mais elementos), podemos assumir que o Gin é melhor em versão cocktail que em versão pura.
O gin está associado a estratos sociais específicos, ou a uma determinada classe social? Há duzentos anos, durante a Gin Craze em Inglaterra, o Gin era bebido até por crianças. Nessa altura era uma bebida familiar, the mother’s ruin. Hoje não se pode dizer que a bebida seja de classe baixa porque o seu valor de mercado é alto. O que surpreende no fenómeno nacional é que em Portugal muita gente esteve disposta a investir no Gin em alturas de crise. Não falo apenas de produtores ou comerciantes, falo de consumidores. De pessoas que não tinham dinheiro para jantar fora e passaram a ter dinheiro para beber dois gins numa noite. Qualquer coisa mudou.
Portugal adotou o Gin (massificou), ou é uma bebida de moda que vai passar? É uma febre por ter sido repentista, por ter apanhado muita gente desprevenida, por ter sido de nicho e por ter explodido. Cada vez que acontece um fenómeno destes num país de escala menor como Portugal, a tendência é sempre para menosprezar o mérito e dar-lhe um título passageiro, acreditar que se aconteceu assim com o gin vai acontecer depois com outra coisa. Mas não vai acontecer tão cedo com mais nada. O Gin vai abrir portas a outros produtos que apenas poderão singrar se estiverem dispostos a trabalhar no nível de qualidade superior criado pelo Gin. Os portugueses não vão substituir o seu Gin por algo inferior, vão transitar do Gin para algo tão bom que entretanto possa aparecer. Mas dificilmente serão os cupcakes...
Em termos de produção de Gin nacional como estamos? Muito bem. Registei mais de 20 Gins nacionais numa lista composta no outro dia. Algumas marcas são brincadeiras de feiras, outras têm potencial para singrar, dependendo do que se quiser deles. Como tudo neste país, o investimento vai ser feito de maneira a ter um retorno rápido. Isso, sabemos, é impossível em tão curto espaço de tempo. Por isso vão sobreviver os espíritos mais fortes. A crescente curiosidade nacional em preferir produtos made in Portugal poderá não ser suficiente para garantir a continuidade de todos. A não ser que os todos sejam capazes de se unir e trabalhar em conjunto.
O que é que a produção nacional fica a dever à produzida lá fora? Nada. Os nossos produtos são bons e alguns dos gins pensados cá são mesmo produzidos lá fora. O importante é a receita, os ingredientes, a sensibilidade e o know how. Tangerina, poejo, salicórnia, bolotas, algas, tudo isto chega ao nosso Gin, em produtos de qualidade.
Em 2016 o que esperas de novo para o GIN? Espero sempre mais e melhor da Gin Lovers, porque ainda há muito por fazer e criar. Espero nunca assentar.
Qual é o melhor GIN do mundo? Acho que ninguém pode dizer qual é o melhor gin do mundo sem cair no ridículo. Devemos
tentar sempre descobrir qual gostamos mais e recomendá-lo sem medo. Eu continuo a gostar muito do Martin Miller’s, do Gin Mare e do Bulldog. São receitas infalíveis e modernas. Depois os clássicos Beefeater 24, Tanqueray Ten ou N.3 London Dry Gin, que nunca nos deixam ficar mal.
Diz-nos um GIN para cada uma destas situações:
A ouvir musica clássica em frente à lareira no final de uma semana de trabalho
Um Blackwoods. Apenas porque sim.
Numa fila de supermercado no final do mês
Um Monkey 47, produto de luxo.
A fazer compras de Natal num centro comercial na consoada
Um Gin Mare para revitalizar e desintoxicar.
Quando sais de casa, estás atrasado para o trabalho e é hora de ponta
Hendrick’s com pepino e toranja. Sim, ambos!
Quando ouves o governo pronunciar mais umas barbaridades que sabes que não vão cumprir
Plymouth com malagueta.
Quando sabes que o preço de artigos básicos vai voltar a aumentar
Bebo o melhor gin mais barato que tiver lá em casa. Um Bombay Sapphire ou Gordon’s Cucumber.
A ouvir o Silent Night
Faço um negroni.
Pedimos que nos sugerisse um GIN para a passagem do ano, e porque razões o escolheria. No entanto Miguel preferiu dar-nos uma sugestão mais variada e nacional.
Sugiro que as pessoas experimentem todos os Gin portugueses disponíveis no mercado, e que conheçam as novas aventuras criadas pelos produtores portugueses nos últimos 3 anos, desde o Bollota ao Nautilus, do NAO ao Big Boss, do Sharish ao Mui Gin, do Cobalto 17 ao Gina, do Adamus ao Friends, do Wild Snow Dog ao Amo.te ou Gold Grail. Se não consumirmos, ninguém produz. Temos de manter a economia em actividade.
Uma nova experiência que vale a pena colecionar.
Titulo: Vamos beber um Gin?
Autor: Miguel Somsen / Daniel Carvalho
Ilustraçoes: Ana Gil
Editora: Casa das Letras