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A AUTOENTREGA E A AUTO-OBSERVAÇÃO


Muitas vezes nos questionamos o porquê de certas coisas nos acontecerem achando que não merecemos tal situação ou, inclusive, que somos azarados. E, muitas vezes, também nos questionamos o porquê de certas coisas não nos acontecerem. De certa forma, julgamos e comparamos a nossa vida com os demais. Tudo isto nos leva à frustração, infelicidade e muitas vezes até à doença.


No entanto, nada está errado. Tudo o que nos acontece é uma oportunidade para que possamos progredir e evoluir. E a forma como agimos é justamente o que determina essa mesma evolução.


Em cada um de nós estão presentes 3 tipos de qualidades (gunas) de natureza que conduzem a personalidade e padrão de pensamento. Estas são: SATTVA – pureza; RAJAS – paixão; TAMAS – inércia. Estas qualidades manifestam-se constantemente e oscilam com grande rapidez. Por isso é que muitas vezes estamos em paz, logo a seguir com raiva e mais tarde com preguiça ou apatia. Normalmente há sempre uma qualidade que predomina mais que as outras.


Quando a qualidade SATTVA predomina, a pessoa experimenta paz e tranquilidade. A calma, a compaixão e o desapego prevalecem e a mente torna-se firme e estável com ausência de raiva e inveja. Quando a qualidade de natureza RAJAS sobressai é impossível a pessoa experimentar paz e tranquilidade. Na verdade, a pessoa é inundada de raiva, inquietação e desejos. É também uma qualidade que gera energia, atividade, entusiasmo e criação. Contudo, quando as expectativas e desejos da pessoa não são realizados há a tendência para a agressividade. E, mesmo que os desejos se realizem, a ânsia e a insatisfação ocorrem. Por último, a qualidade de natureza mais “escura” é TAMAS. Quando esta impera na mente da pessoa a preguiça, apatia, confusão e falta de ânimo prevalecem. A pessoa torna-se autodestrutiva e resistente à mudança.


Desta forma, torna-se importante desenvolver a auto-observação e reflexão para que o ser/estar seja estável.


A mente manipula e escraviza o ser e os sentidos buscam sempre autogratificação. Isto é, os olhos querem sempre ver o que é lhes é agradável e a boca quer sempre experimentar o que lhe é apetecível. Quando isto não acontece, a pessoa fica insatisfeita ou ansiosa por mais. Tudo isto acontece por falta de disciplina.


Comecemos então por estar atentos ao tipo de linguagem que usamos e o modo como falamos, uma vez que estes são o reflexo da mente. Será que usamos muitas palavras negativas? Será que somos agressivos? Será que falamos com clareza para que os outros nos percebam? Este último aspeto é bastante importante. Se formos claros quando falamos evitamos más interpretações e magoarmos alguém.


É também importante observarmos a nossa mente. Não os nossos pensamentos, mas as nossas fraquezas – TAMAS, ambições – RAJAS e forças – SATTVA. Neste caso, analisar o que nos limita, o que é possível adquirirmos e quais as forças que devemos cultivar. Deste modo, poderemos transformar a personalidade e comportamento da mente.


Torna-se igualmente importante perceber que o prazer e a dor aparecem sempre como um par. Um desejo leva sempre a outro desejo. E quando um desejo não é realizado a pessoa experimenta a dor. A melhor forma de superarmos isto é através de Karma Yoga. Ou seja, agirmos sem ego e sem expetativas. Aquele que é feliz sem desejos, sem medos, sem ego e aquele que não se deixa distrair pela dualidade alcança, sem dúvida, uma mente estável e equilibrada.


Por último, aceitar tudo o que o Universo nos dá. Aceitar significa autoentrega. O segredo é encarar que tudo o que nos acontece é uma oportunidade para evoluirmos. Uma oportunidade para que possamos realizar o nosso dharma.


Aspiramos liberdade e paz e ao mesmo tempo queremos continuar apegados ao mundano (pessoas, emoções e coisas). Se alguém anseia realmente a liberdade este é um caminho que exige bastante disciplina e devoção. Isto é o que todos os grandes sábios nos têm inspirado e transmitindo ao longo dos séculos.

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