ESTREIA a 11 de Fevereiro de 2016
Avaliação Critica: XXXXX
Talvez seja paradoxal assistir a um filme como "As 50 Sombras de Black" no mesmo ano em que o segundo boicote aos Óscares por questões de discriminação racial paira no horizonte. Contudo essa não é a razão principal porque o filme parece tão fora de tempo.
É irrelevante fazer um resumo da história - ter uma, não é o objectivo do filme (nem não ter, o seu defeito) - porque mais importante será, não fosse este um spoof movie, ter visto o filme original: "As 50 Sombras de Grey". O filme não se desfaz caso o espectador não conheça a origem da paródia mas suponho que algumas das piadas existem apenas para quem tiver seguido a história.
As "50 Sombras de Black" tem como bandeira de promoção a mesma equipa que fez Scary Movie, o filme de êxito que saiu no ano 2000. Quando "Scary Movie" chegou às salas de cinema foi um êxito instantâneo. Eu tinha 9 anos - muito novo para assistir no grande ecrã - e lembro-me do marco cultural e das 4 sequelas que deixou. As piadas repetiram-se ao longo dos anos e será para sempre lembrado como um fenómeno transversal da minha geração. Bom ou mau, não é essa a questão; Scary Movie foi relevante, durante muitos anos, para muita gente. É essa uma das razões que nos permite ter, hoje em dia, "As 50 Sombras de Black".
Contudo desde o início deste século o mundo mudou muito, particularmente no que toca ao público alvo do filme, à forma como este público é capaz de encontrar o tipo de conteúdo que os satisfaz. Desde o ano 2000 apareceram o Youtube, Vines, Instagram, Facebook. Todas estas plataformas recheadas de amadores desejosos de fazerem o mesmo tipo de piadas e paródias que As 50 Sombras de Grey pretende mas mais barato, mais depressa, mais em contacto com a sua audiência e com a mesma qualidade. A pergunta que temos de fazer é esta: se Scary Movie saísse esta semana, pela primeira vez, teria o mesmo sucesso que teve há 15 anos atrás? Existe lugar no mundo de 2016 para As 50 Sombras de Black?
Eu arriscaria dizer que não. Arriscaria também dizer que o filme confirma as minhas suspeitas quando, por exemplo, usa a imagem icónica de Kim Kardashian com o copo de champanhe pousado no traseiro. Imagem essa que se tornou famosa na internet e que, respeitando a memória curta deste meio de comunicação, já se tornou, no momento em que sai o filme, uma piada velha, fora de moda. Pode fazer-nos sorrir porque nos lembramos da imagem, das reacções e variações que a internet criou. Mas se Scary Movie criou as suas próprias imagens e situações originais, que se tornaram por sua vez em memes da cultura popular, As 50 Sombras de Black é ele mesmo mimético do conteúdo reciclado de um meio que muda muito mais depressa que a indústria cinematográfica consegue produzir filmes.
As 50 Sombras de Black exige ser avaliado na sua categoria especial, respeitando os objectivos do filme e aquilo a que se propõe. E é exactamente por isso que fica tão aquém das expectativas. É uma repetição de uma piada velha e fora de moda, que esbarra de cabeça num mundo e num público que já não é o mesmo do seu antecessor. O spoof movie não é recente na história do cinema. Pelo contrário, existe praticamente desde que existem filmes, com história e exemplos interessantes e marcantes: Austin Powers, This Is Spinal Tap, The Naked Gun… Mas talvez, no caso desta variação específica, seja a altura certa de evoluir e encontrar outras formas de parodiar a cultura popular. Eu sei o que fizeram no verão passado. Foi o mesmo filme. Está na hora de mudar.
Realizado por Michael Tiddes
Argumento de Marlon Wayans e Rick Alvarez
Elenco: Marlon Wayans, Kali Hawk, Affion Crockett, Fred Willard, Mike Epps