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Filme / TRUMBO

ESTREIA a 18 de Fevereiro de 2016


Avaliação Crítica: XXXXX


O período da “caça às bruxas” do pós-guerra americano continua a marcar presença na memória colectiva de um povo, e respectivo cinema, como um dos mais negros e vergonhosos na sua história nacional. Particularmente venenoso para a indústria cinematográfica, é a altura em que as variadas associações de ética e proteção da integridade e dos valores nacionais se empenham em derrubar e controlar definitivamente um sector e os seus intervenientes, com toda a hipocrisia que - agindo na terra que professa os direitos individuais e a liberdade de expressão - carregam.


Bryan Cranston interpreta Donald Trumbo, um argumentista de sucesso em Hollywood, que se vê subjugado pelo nacionalismo extremista dos conservadores anti-comunistas. Acusado de traidor, preso por não incriminar os seus colegas - como muitos fizeram - nunca abandona os seus ideais pessoais, lutando, alega ele, pelo seu país e por aquilo que acredita ser o correcto. E por eles perde amigos, colegas, trabalho, integridade. A obsessão de Donald leva-o a descurar as relações pessoais, quase perdendo a família. Acusam-no de hipocrisia pois, afinal de contas, não é ele um milionário que vive do sistema capitalista? Donald é, acima de tudo, um teimoso idealista, que navega o sistema e o pretende derrotar com as suas próprias armas, em nome da liberdade de pensamento. Acusado de anti-americanismo, Donald Trumbo é, ironicamente, um verdadeiro herói americano.


Contudo o filme falha em explorar por completo a personagem de Trumbo e esta é a principal desilusão: face a um personagem que se entrevê complexo e apaixonante, recheado de contradições e níveis distintos de profundidade, o filme simplifica os “bons” e os “maus” de uma forma excessivamente redutora durante a primeira meia-hora, anulando as camadas de personalidade original que pinta de seguida. Numa história sobre as gradações de cinzento que constituem a sociedade e o indivíduo, a oposição entre o bem e o mal é feita a preto e branco. Roubando os diálogos ao filme, “há aqui uma boa história para contar” mas precisávamos de um Trumbo que se impusesse definitivamente às restantes distrações do enredo. (A falta não é da parte de Bryan Cranston que, nomeado para um BAFTA e um Óscar - entre outros - pela interpretação, demonstra mais uma vez como a sua entrada tardia no mundo das estrelas do cinema americano é merecedora de respeito e atenção. É, sem outros rodeios, um excelente actor.)


O filme merece ser visto, pela personagem, pelo interesse histórico e biográfico. É difícil não nos deixarmos envolver e entreter pelas aventuras e desventuras, planos e conspirações das personagens. No final, contudo, fica no ar uma ideia do que poderia ter sido, de um potencial não atingido, e saímos do cinema com mais vontade de rever os filmes citados do que a pensar em Trumbo.


Ficha Técnica


Realizado por Jay Roach

Argumento de Josh McNamara

Baseado no livro Dalton Trumbo de Bruce Alexander Cook

Elenco: Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, Louie C.K., Elle Fanning, John Goodman

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