Quando achamos que sabemos algo, gostamos de saber que sabemos. Mas será que estamos dispostos a dizer "afinal não, afinal não sei nada"? Podemos tentar agarrar-nos ao que achamos que sabemos e repetir esse conhecimento para nós numa espécie de mantra encantado que cria o véu de uma certeza que se mantém com esforço mental, com concentração excessiva, com apego, com um agarrar tenso...que nos fecha, nos limita, nos incapacita de ver o que está diante de nós. Não só gostamos de sentir que sabemos (e este gostar tem várias manifestações), mas de forma mais ou menos subliminar passamos aos outros os nossos maravilhosos conhecimentos, sempre cheios de boas intenções, sempre tão altruístas... (‘really’???). É relativamente simples na caminhada espiritual ir sentindo uns ‘glimpses’ da Paz suprema, da união, às vezes mais que ‘glimpses’, grandes revelações que nos fazem crer "uauuuu...isto nunca mais será o mesmo". Isto o quê, pergunto eu? O que é que de facto muda? O que se gerou desses momentos? O que fizemos com eles? Será que não é mais fácil ir idolatrando momentos "bonitos" num constante recordar (que nos leva à mente, à memória e ao passado que já não existe), do que colocar o corpo e o espírito a jeito para levar um “chapadão” de "toma lá que é para não teres manias e certezas". Esses chapadões não são castigos! São bênçãos! São o limar da faca que se quer afiada o suficiente para cortar tudo aquilo que não é real... Se metemos a lamina no bolso porque já a achamos forte suficiente...deixamo-la lá e quando notamos...embora aparentemente afiada, está ferrugenta sem capacidade de cortar, de separar, de distinguir, de discernir. Um bom mestre espiritual (que pode ser a mãe, o amigo, o cão, o filho...no fundo todos UM, todos Deus) não tem falinhas mansas, não está ali para falar bonito, nem para arranjar bolsinhas para facas relativamente funcionais, está ali para te dar pedras que te parecerão impossíveis de trabalhar com a faca que possuis...e na caminhada do esculpir dessa pedra, onde os dedos ganham bolhas, os olhos choram, o coração perde o seu ritmo por instantes, que a faca afia e afia...cada vez mais capaz de ver e viver no discernimento, na Unidade. O maior mestre é a vida (que és e que vives) que te dá sempre o que precisas a cada instante, mantem a faca fora do bolso...guardada não te serve. Agradece a cada calhau que em bruto te cai aos pés e pede a tua arte criativa e tão poderosa de transformação.