Terapias assistidas com animais é uma realidade ainda em exploração, em Portugal. Já imaginou se problemas tais como a demência nos idosos, as incapacidades motoras, os problemas comportamentais em jovens e adultos ou as dificuldades de leitura nas crianças pudessem ser tratados com ajuda de um cão? É verdade, já é possível.
Estivemos à conversa com Filipa Nunes, com formação como professora de Ensino Especial e colaboradora do Centro para o Conhecimento Animal (CPCA), que nos falou dos benefícios desta terapia. “A presença do animal vai despoletar comportamentos no paciente. O cão dá motivação ao paciente para chegar a resultados que o terapeuta poderia não conseguir tão depressa ou da mesma forma”.
O CPCA foca-se, atualmente, na terapia assistida com cães em dois casos específicos: crianças no primeiro ciclo escolar, a quem são diagnosticadas dificuldades de leitura ou de interpretação e um caso específico de uma criança de 4 anos, com diagnóstico de autismo.
No caso das crianças do primeiro ciclo escolar, todos os casos acompanhados, até ao momento, mostraram melhorias muito significativas. “Quando chegaram à terapia assistida foram avaliados porque temos de ter objetivos mensuráveis para perceber a evolução. Em turma, se o aluno falha é criticado. Pode acabar por ficar com vergonha, não quer ler à frente dos colegas e professores e assim não ultrapassa a dificuldade apresentada. Nas sessões de terapia, o cão está com uma postura atenta. O aluno sente que o animal o está a ouvir. Quando erra, o treinador diz ao cão para fazer algum gesto que mostre que a forma como leu algo está errada. Quando acerta, o cão tem de fazer algum tipo de gesto como pôr-se em pé para mostrar à criança que leu bem. O animal dá motivação e não critica”, explica-nos Filipa Nunes.
Como é que o aluno evolui na escola? “Na sala de aula, quando o professor pergunta quem quer ler, estes alunos começam a oferecer-se. Perdem a vergonha. Pais e professores sentem as melhorias”.
Falámos anteriormente também do caso da criança de 4 anos, com diagnóstico de autismo. Neste caso já foram feitas 10 sessões, em cerca de 4 meses de terapia. A criança não falava e manifestava-se de forma muitas vezes agressiva. Atualmente, tem uma postura mais calma e concentrada. Já se registam tentativas de manifestação verbal e já se percebe melhor o que esta criança quer expressar. Ao verem as evoluções, os pais da criança de 4 anos optaram também por adotar um cão, de forma a continuar o trabalho do estímulo em casa.
Um cão terapeuta precisa de ter determinadas características. Filipa explicou-nos que “por exemplo, no caso de uma criança mais agitada deve ser um cão mais calmo até para haver uma imitação deste comportamento mais pacato. Se quisermos estimular a atividade motora se calhar é melhor usarmos um animal mais ativo. Todos têm de ter uma atitude não agressiva, de respeito para com o ser humano”.
“Se estivermos a fazer terapia com uma criança mais agitada convém termos um cão grande e robusto. Neste caso, a criança pode dar um estalo ao cão e não queremos de todo que o animal sofra algum dano e daí ele precisar desta robustez física e também tem de ser um animal dócil.”
Cães terapeutas? Afinal eles existem!