ESTREIA a 03 de Março de 2016
Avaliação Critica: XXXXX
A Força da Verdade conta a história da luta de um distinguido médico nigeriano nos Estados Unidos contra a Liga Nacional de Futebol quando chega à conclusão que um grande número de jogadores sofrem consequências neurológicas fatais no final de longas e violentas carreiras.
O assunto, mais do que o filme, é muito interessante e, por si só, merece o visionamento que se faz valer, neste sentido, do valor documental. E, por outro lado, se quisermos comparar com outro filme semelhante que saiu este ano - Spotlight - não deixa de ser curiosa a resistência que o governo americano oferece quando se trata de futebol. A comparação que o filme faz entre a NFL (National Football League) e as grandes tabaqueiras é certeira.
Além do tema central o filme toca noutras questões. Uma, particularmente interessante, é a identidade cultural da personagem de Will Smith, o Dr. Bennet Omalu. (Sublinho a qualidade da prestação de Will Smith, inesperada, pois é capaz de construir uma personagem muito mais credível que a do argumento, sempre mantendo um sotaque nigeriano.) Sendo emigrante nigeriano, Omalu “nem sequer é afro-americano”, citando uma das várias acusações que lhe dirigem. Ao ousar falar contra uma prática tão enraizada na vida americana como o futebol - que se estende muito além do estádio - Omalu não está apenas a falar contra a corrente. Está a ameaçar o espírito americano, de fora, enquanto emigrante ingrato ou ignorante. Mas se o país o trata mal, Omalu não perde a ilusão: para ele o pior dos desfechos seria voltar para a Nigéria e o seu maior sonho é ser aceite como americano. Contraditório, talvez, mas é assim mesmo que se apresenta a personagem e, afinal de contas, o multiculturalismo americano.
No entanto tanto o tema central - a luta pela busca da verdade -, como os vários temas secundários que se vão delineando, ficam muito aquém do que poderia ser uma análise satisfatória ou uma conclusão interessante dos mesmos. Dito de outra forma, a história, o assunto ou as personagens, todos estes elementos do filme são curiosos e singulares a priori. Posto na sinopse ou no resumo parecem muito bem. Mas o filme não se demora muito em nada que não seja o enredo básico do drama e respectivos lugares-comuns, completo até com cartões que nos explicam o que vai acontecer no futuro.
É um filme que não deixa de ser interessante apesar de todos os seus defeitos enquanto peça de ficção justamente porque consegue ser tão cativante enquanto peça de jornalismo. Nos primeiros minutos diz-nos que a história é baseada numa reportagem. E é isso mesmo que o filme é: uma peça jornalística com uma história enfiada lá dentro. Uma boa história, com certeza. Mas uma que não ganhou nada na passagem para o grande ecrã.
Ficha Técnica
Realizado por Peter Landesman
Escrito por Peter Landesman
Baseado em Game Brain por Jeanne Marie Laskas
Elenco: Will Smith, Alec Baldwin, Gugu Mbatha-Raw, Arliss Howard, Paul Reiser, Luke Wilson