ESTREIA a 17 de março de 2016
Avaliação Critíca: XXXXX
Orgulho, Preconceito e Guerra. O título, ou a sua tradução, merece um prefácio. No original em inglês - e também no livro editado em Portugal - a diferença é pouca mas curiosa: Orgulho, Preconceito e Zombies. E por mais que pense não consigo arranjar justificação para a escolha de Guerra em vez de Zombies.
Mas vejamos: no ano de 2016 a palavra zombies já adquiriu um estatuto de reconhecimento universal. Apesar de ser um empréstimo da língua inglesa, introduziu-se sem problemas nas nossas conversas, através de fenómenos culturais como a série de televisão Walking Dead ou o filme World War Z, por exemplo. Portanto o problema não será a estranheza da palavra. Aliás, e se ainda restassem dúvidas, o livro em português usa a tradução correcta. Ninguém precisa de consultar o dicionário quando encontra a palavra zombie. E ninguém consegue arranjar uma justificação satisfatória para o título português. (Uma pequena nota: em brasileiro o título é, sem surpresas, Orgulho, Preconceito e Zumbis.)
Aqui está a minha explicação, fantasiosa: na saturação brutal do mercado da cultura popular pelo fenómeno dos zombies, os tradutores portugueses decidiram enganar os espectadores menos bem preparados que já estivessem fartos de ver filmes com zombies.
Um estratagema inteligente, visto que os zombies são a principal atracção do filme, numa deturpação de um clássico - com direito a piscadelas de olho para os leitores que leram o livro original (o original mesmo) ainda que em forma de cliff notes - que nunca chega a ser nada daquilo que promete ou podia ser.
Não tenho problema nenhum com a premissa: uma Inglaterra classista e seus dilemas enfiada numa misturadora com zombies e respectivos caçadores polvilhada com artes marciais parece-me muito bem, com muito potencial para ser uma tarde de cinema divertida. (Aliás, um dos melhores momentos do filme é a pequena apresentação animada, com boa música, boa animação e desenhos e uma narração mais auto-consciente que o resto do filme.)
O filme, contudo, esqueceu-se da parte da misturadora. As cenas que apenas tratam de uma coisa ou outra são banais, má adaptações do romance ou reciclagens do género zombie. As cenas que misturam os dois géneros são tão desajeitadas que caem no ridículo muito depressa. O filme não parece ter sido pensado além da premissa. Os personagens lutam para depois conversar normalmente como se nada tivesse acontecido. Os pontos importantes da história (alguém se lembra dos quatro cavaleiros do apocalipse?) sucedem-se sem sentido, sem impacto, sem aquela regra essencial das histórias que é a causalidade.
E Orgulho, Preconceito e Guerra não se pode desculpar com sentido de humor ou alegando ser um filme paródia. Não porque não seja - é claro que é - mas sim porque o nível de envolvimento e preocupação pelos destinos das personagens que exige da minha parte é, na realidade, muito maior do que aquele que teria de ser para eu conseguir deixar passar todas estas falhas.
Para resumir, o problema do filme não é o ridículo imediato da premissa. O grande problema é que, na sua mediocridade e falta de jeito, toma a premissa como um divertimento garantido e entrega um filme aborrecido e sem sentido.
Ficha Técnica
Realizado por Burr Steers
Argumento de Burr Steers
Elenco: Lily James, Sam Riley, Bella Heathcote, Ellie Bamber, Millie Brady, Suki Waterhouse
Distribuidora: NOS Audiovisuais