ESTREIA a 17 de março de 2016
Avaliação Critíca: XXXXX
Uma História de Amor e Trevas é um filme sobre sonhos defraudados, sobre a desilusão que nasce quando a realidade é posta em confronto com as histórias, passado em Israel nos anos 40, ou seja, durante o fim do Mandato Britânico, proclamação da independência do Estado Judaico e subsequentes confrontos militares com os países árabes circundantes. Estes são os acontecimentos que rodeiam as duas personagens principais - Fania Oz e o seu filho Amos - nas quais o tema se repete ao ritmo de duas vidas diferentes, sempre com motivo da procura da construção e compreensão de uma identidade judaica, junto com os seus sonhos, desejos e objectivos.
Fania Oz conta histórias ao filho, seguindo uma tradição judaica de transmissão do conhecimento. Histórias da sua infância na Diáspora, lendas antigas ou histórias que inventam os dois. Amos absorve tudo o que se passa à sua volta e, um dia, há de querer ser escritor. Também o pai entra neste jogo das histórias, sempre no sentido da origem das coisas, das palavras - não esqueçamos que também a etimologia e o estudo do sentido das palavras foram condutores de uma tendência maior do misticismo judaico - e mais tarde da iminência e importância da luta por Israel. É, portanto, um filme no qual a fruição depende um pouco do conhecimento destas tradições pois grande parte do seu sentido está nesta ideia da construção da identidade.
Voltando ao enredo, Fania Oz sonhou outrora com um arquétipo do agricultor intelectual, que é ao mesmo tempo soldado e poeta, trabalhando o solo dos kibbutzim e construindo uma nova terra para os judeus. Em Israel o seu sonho é despedaçado pela guerra, pelas condições miseráveis em que é obrigada a viver, um pouco em contraste com uma infância aristocrática que nos é sugerida. Amos Oz cresce cumprirá, mais tarde, o sonho da mãe, saindo de casa para se tornar agricultor num kibbutz, ainda que nos revele que ele próprio não se revê neste estilo de vida. Ambos estão à procura de um Israel interior, constantemente em conflito com o mundo à sua volta.
O filme, contudo, acaba por cair numa espiral de imagens e dispositivos narrativos cliché, sendo o início muito melhor que o meio e fim, pela fidelidade ao tema e contexto do filme que consegue, momentaneamente, manter. Um exemplo é a doença que acaba por matar Fania que não é nem depressão nem melancolia mas sim um exemplo daquela maleita que só afecta as pessoas nobres e boas do cinema: a tristeza conveniente.
É com alguma pena que digo que o filme fica muito aquém das possibilidades. Mas talvez sem surpresas, visto que tem de respeitar as regras da biografia ou da história de vida da personagem-real (ou seja, indiferentes às necessidades de uma boa história). No final de contas é um filme muito mais interessante pela forma como retrata os lugares comuns do seu contexto e personagens do que pela forma como explora as sensibilidades particulares desses mesmo personagens. Mas, mais uma vez, essas marcas culturais exigem uma espécie de estudo prévio para deixarem alguma mensagem. E isso é sempre mau sinal: a parte do filme que o tornaria bom, interessante e abrangente - a história, as personagens - é normal, sem nada a acrescentar.
Não tenho de fazer trabalhos de casa para ver um filme. Pelo contrário, os grandes filmes contagiam-nos essa vontade de pesquisa e investigação.
Título Original: A Tale of Love and Darkness
Realizador: Natalie Portman
Argumento: Natalie Portman sobre livro de Amos Oz
Elenco: Natalie Portman, Makram Khoury, Shira Haas
Distribuidora: NOS Audiovisuais