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Quem é Quem? / TIAGO R. SANTOS

«Eu vejo muito cinema, escrevo crítica de cinema, gosto muito de filmes, gosto muito de ficção, gosto muito de tentar contar histórias».


Quisemos ligar uma cara ao Quem é Quem? deste mês, Tiago Santos foi o argumentista que a M.A.D.E magazine entrevistou - argumentista português, conhecido por diversos filmes, séries televisivas e pelo livro já falado também nesta revista "A velocidade dos Objectos Metálicos".


Para Tiago Santos um argumentista é alguém que escreve um argumento para um filme, «sempre que este entra em produção ou pré-produção há um argumento», «há uma especie de planta de uma casa, sempre que vamos construir uma casa é necessário que alguém a desenhe 1º, ou seja é um desenho da história que se vai contar, é um desenho das personagens que vão ser interpretadas pelos atores mais tarde, é o que vai permitir às outras pessoas desempenharem outras funções na produção de um filme, se lerem o guião o filme está lá todo».


Tiago sempre gostou muito de cinema, até aos 15 anos via filmes em casa de uma forma compulsiva, depois passou «como todo o adolescente» por querer «jogar futebol, beber cervejas e beijar miúdas», a seguir decidiu estudar comunicação social porque tinha algum jeito para escrever e vontade para o fazer.

Mas mais tarde acabou por perceber que o jornalismo não era o seu caminho, foi para Nova York e começou a analisar o que queria realmente.


Segundo este argumentista um argumento deve obedecer a vários elementos, entre eles está o facto de que um argumento deve ter uma escrita muito visual, tudo o que se escreve num argumento tem de ser passível de ser traduzida visualmente. Um dos erros que se vê de quem começa a escrever é a tentativa de embelezar a prosa, escrever coisas que não dão para traduzir, dá como exemplo o discurso interior, recordações, peq. coisas que se usa na escrita literária mas que não tem lugar no argumento. Num argumento que adaptou ao cinema recentemente, em conjunto com o autor, sentiu a necessidade de inventar novas situações para que se conseguisse traduzir o sentido que o autor quis transmitir na sua obra para o cinema.


Qual é a diferença entre um argumentista e um autor de um livro?

«Um autor dum livro não se torna um objeto audiovisual enquanto que um autor de um argumento sim. Um livro tem que ser sempre adaptado, pode não ser adaptado pelo próprio autor e nesse caso pode passar para as mãos de um argumentista».


Não tens receio que desvirtuem a tua história quando és só o autor e não o argumentista?

«Há sempre essa questão, mas as pessoas com quem trabalho..., confio no trabalho deles, e na sua capacidade intuitiva de conseguir pegar naquele argumento e fazer a melhor história possível, portanto tem que haver sempre uma certa confiança implícita neste processo».


Para Tiago Santos escrever argumentos é uma paixão e amor ao mesmo tempo. Há sempre elementos que o vão deixar frustrado e com duvidas, mas isso só o faz «esforçar mais, trabalhar mais e ser melhor naquilo que faço, portanto não é certamente um capricho».


No que é que um bom argumento nos pode ajudar?

«É importante para nós e para a sociedade (...) contar histórias (...) que as pessoas consigam identificar, que as ajudem a interpretar o mundo, a compreendê-lo melhor ou a refletir um bocado sobre si próprias e um argumento é uma base para uma ficçã

Achas que o cinema tem um papel educativo?

« Se quando saírem do cinema houve ali um sub-texto que os faz pensar (...), sobre a vida, ou sobre o estado de alguma coisa ou alguma questão importante e relevante para a sociedade portuguesa tanto melhor, , eu não escrevo num vácuo e gosto de pensar que tudo o que escrevo estabelece essa empatia ou outras questões, nem que sejam questões existenciais, que tipo de pessoas são ou o que querem da vida (...) tudo isso ajuda as pessoas a sentirem-se mais integradas e que reflitam sobre o que as rodeia,. Não sei se isso quer dizer que o cinema tem um aspeto didático mas acima de tudo tem um lado de estabelecer uma empatia em relação a determinadas questões o que nos une através deste objeto comum que é o cinema».


Tiago identifica-se com alguns realizadores , mas falou-nos de um em particular, Antonio Pedro Vasconcelos «temos uma empatia forte em relação ao tipo de cinema que achamos importante fazer neste momento, contar histórias que sejam relevantes e pertinentes e ao mesmo tempo que comovam e com as quais os espetadores se consigam identificar».

No que diz respeito a estrangeiros fez referência a alguns que assumiram papeis importantes em diferentes épocas da sua vida como Quentin Tarantino, Charlie Kaufman, David Mamet, entre outros.


«Gosto do cinema americano», « os Americanos sempre tiveram mais apetência para contar histórias, construir personagens icónicas, os Europeus sempre foram mais existencialistas, mais filosóficos»


O trabalho do argumentista é feito em conjunto com o realizador do filme?

«Depende, há vários métodos de trabalhar, nos filmes que faço com o António Pedro Vasconcelos discutimos muito as histórias, os personagens e o que queremos dizer, antes de eu começar a escrever. Quando começo a escrever é um trabalho solitário mas até lá tenho que perceber que o realizador vai querer fazer aquilo que eu vou escrever. Mas também já tive realizadores, que eu escrevi argumentos em casa sozinho, eles viram , gostaram e filmaram. Portanto há várias maneiras de trabalhar».


Argumentos de filmes como Call Girl, Os Gatos não têm Vertigens, A Bela e o Paparazzo ou O Amor é Impossível escritos por Tiago Santos, são originais, mas o novo filme de Joaquim Leitão (ainda em rodagem) Índice Médio da Felicidade é uma adaptação que fez da obra literária de David Machado, que será tornado obra cinematográfica. Escrever uma adaptação de uma obra pré-existente é diferente, a linguagem é transformada, interessa responder a perguntas como «este filme é sobre o quê?, qual é o tom?, e tentar ajudar (muitas vezes inventando cenas novas) que captem acima de tudo o espirito e o objetivo do próprio livro».


Desengane-se quem pensa que um argumentista escreve qualquer genero de argumentos, no caso de Tiago Santos um dos motivos de recusa é o de «se eu achar que não vou ser bom a escrever aquilo».


Nunca escreveria -Novelas - «eu não gosto de novelas e assusta-me a ideia de estar 8 meses a trabalhar no mesmo», - Nicholas Sparks - «também nunca escreveria (...) porque não acredito em nada daquilo... assim como um assassino com um machado, a matar pessoas (risos) se bem que talvez pudesse ter piada, aquele genero comédia/horror».

«Portanto de entre os tipos que nunca escreveria, - Nicholas Sparks - pessoas apaixonadas a olhar para o mar, - Filmes de artes marciais - um filme de gajos à porrada, - Musicais - não sei cantar, não tenho ritmo, nem sequer escrevi um poema na minha vida, não vou por pessoas a cantar com letras que eu inventei».


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