Eis a palavra da moda. Ouvimo-la em modo disco riscado da boca de professores, políticos, ambientalistas, advogados, empresários, economistas entre muitos outros. Desde o comum dos cidadãos até à alta esfera de influências governativas. É esticada e aproveitada para qualquer tema. O orçamento é sustentável, o desenvolvimento, a produção, a construção, a agricultura, o carro...e por aí fora.
O que significa algo ser sustentável? O termo sustentável provém do latim sustentare que nos remete para defender, favorecer, apoiar, conservar e cuidar. É uma característica ou condição de um processo (ou sistema) que permite a sua permanência em certo nível, por um determinado prazo.
Trata-se de um conceito complexo que integra questões sociais, económicas e ambientais. Aliás estes são os três pilares da sustentabilidade. Fazem-me sempre lembrar as 3 éticas da Permacultura (Cuidar da Terra, Cuidar das Pessoas e Partilhar os Excedentes). Por isso decidi escrever este mês sobre este tema e desmistificá-lo um pouco.
Este conceito tem sido tema central dos congressos e cimeiras do clima e meio ambiente desde os anos 70. Mais tarde surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável que nos rodeia hoje em dia e que parece ser usado em demasia (propositadamente?) até perder o sentido.
“Atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações em prover as suas próprias necessidades.” Esta é a definição de desenvolvimento sustentável. Em teoria parece certo. Mas a humanidade já tem conhecimento suficiente para saber que a civilização não é, nem nunca foi, sustentável.
Se reflectirmos sobre a casa que nos sustenta, o planeta Terra, lembramo-nos que tem muitos mil milhões de anos, e que já sustenta vida desde há cerca de 4 mil milhões de anos. Que os hominídeos apareceram nem há 10 milhões de anos, e que constroem ferramentas desde há 2 milhões, e manuseiam fogo há 500 mil anos e entretanto foram descobrindo a arte, a música, a construção de abrigos, o saber de criar crianças, etc. Todas essas coisas que nos fazem ser quem somos.
Mas o que nos define hoje em dia é algo que só praticamos há cerca de 10 mil anos. A agricultura. Algo que nos permitiu fixar numa determinada área. Algo que permitiu uns produzirem comida para outros, algo que permitiu dividir a sociedade em classes, algo que permitiu a posse de terra...algo que definiu a civilização. E a história da civilização é bem clara. Onde primeiro apareceu a agricultura hoje em dia temos desertos. Má gestão do solo está ligada à civilização moderna ocidental. Os casos mais óbvios são o crescente fértil no médio oriente e a Grécia. De ambas as regiões existem relatos de florestas e paisagens abundantes de vida. Antes da agricultura...Hoje em dia é só poeira. Mais recentemente, os casos das tempestades de areia na América do Norte são resultado de má gestão agrícola. Se investigarmos a agricultura provocou mais ondas de fome de que alimentou pessoas.
Se a palavra sustentabilidade é a bandeira da nossa civilização vamos melhorá-la, transformá-la e adaptá-la. Ser sustentável parece demasiado rígido e estático. “Como está o teu casamento?” “Está sustentável!”. Não parece muito promissor, pois não?
Podemos ver sustentável como meio caminho entre algo degenerativo e regenerativo. Porque não defender acções, pensamentos, planeamentos regenerativos? Porquê só reciclar? Quando nos ensinaram os três “RRRs”: primeiro reduzir, segundo reutilizar e só no fim reciclar. Ou porque não acrescentar mais “RRRRRs”? Que tal recusar? Reparar? REGENERAR!
Existem muitos exemplos na História de como gerir os solos. O pastoreio, a horticultura e os caçadores recolectores, entre outros. A agricultura não define a humanidade. Quanto muito a civilização.
Não vamos deixar que a sustentabilidade nos defina. Porque não sermos conhecidos como os da Era da Regeneração?