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Filme / O CONTO DOS CONTOS

ESTREIA a 31 de março de 2016


Avaliação crítica: XXXXX

Era uma vez três reinos vizinhos, cada um com um magnífico castelo, a partir do qual governavam reis e rainhas, príncipes e princesas. Um rei era um libertino fornicador, outro cativado por um estranho animal, enquanto uma das rainhas era obcecada pelo seu desejo de ter um filho.

Feiticeiros e fadas, monstros terríveis, ogres e lavadeiras antigas, acrobatas e cortesãs são os protagonistas desta interpretação livre dos célebres contos de Giambattista Basile.


O Conto dos Contos é um filme feito de três histórias diferentes. Três histórias com um tom de conto de fadas e, efectivamente, retiradas e adaptadas de uma colectânea com quatro séculos de vida, da qual nos restaram outras histórias mais famosas como Rapunzel ou a Bela Adormecida. Mas o filme não pega nas histórias mais famosas.


O resumo complicado das três histórias acaba por deixar entrever um pouco aquilo que eu considero ser o principal problema deste filme. Mas, em primeiro lugar, consideremos o tema que une as histórias. Afinal qual foi a razão para escolher estas histórias, e não outras, para partilharem o mesmo filme? O que é que acrescentam umas às outras que ficaria perdido caso o filme trabalhasse apenas um dos contos?


O filme ordena as histórias num multiplot com regras simples. O salto de uma história para a outra é matemático: primeiro uma, depois a outra, finalmente a terceira e de volta ao início. Não há nenhuma montagem alternada que justifique a passagem de um lado para o outro. As peripécias sucedem-se com tanta variedade que o impacto e as consequências de uma determinada cena se perdem no mar de histórias, personagens, motivações diferentes. Além disso existe ainda um problema de tradução: a linguagem dos contos não é a mesma que a linguagem do cinema. E é possível, por vezes, identificar momentos que não fazem sentido porque foram perdidos na tradução, já não fazem sentido num lugar nem no outro.


Por estas razões - e outras que excedem o objectivo desta crítica - o filme acaba por perder o seu efeito. Poderá o tema geral das histórias ser a inveja?, arrogância?, o fio que une todas as personagens e motivações? Talvez, mas se é, ou não, não interessa de todo visto que o filme é incapaz de nos comunicar qualquer ideia sobre o tema que não se dilua em personagens ou cenas que aparentam estar a mais. Visualmente tem momentos interessantes, mas nada que filmes parecidos (The Fall, de Tarsem Singh, vem-me à memória) não fizessem melhor, recorrendo excessivamente à maravilha dos planos gerais para depois perder toda a originalidade nos planos mais aproximados.


É interessante comparar os dois filmes neste aspecto: ambos são sobre “contos” e ambos usam paisagens e monumentos maravilhosos onde a acção parece quase teatral. Mas um soa a falso e espera que o simples facto de ser adaptação de um conto seja suficiente para ser um.


Título Original: Tale of Tales

Realizador: Matteo Garrone

Elenco: Salma Hayek, Vincent Cassel, Toby Jones e John C. Reilly

Distribuidora: NOS Audiovisuais

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