ESTREIA a 07 de abril de 2016
Avaliação crítica: XXXXX
Há alguns anos que os videojogos começaram a revelar uma tendência de aproximação estética e temática ao mundo do cinema. A série Call Of Duty, por exemplo, chegou ao ponto de contratar Kevin Spacey usando quer a sua voz quer a sua parecença em Advanced Warfare. Hoje em dia, o termo “cinemático” é usado para descrever e elogiar jogos que, através dos gráficos e enredos, desenvolvem o meio num sentido positivo, em direcção ao futuro.
Mais estranho, mas não menos inesperado, será então a aproximação dos filmes aos jogos. Mas é isso mesmo que Hardcore é: um filme literalmente na primeira pessoa no qual o herói - um cyborg ressuscitado - salta de missão em missão, de uma multidão de inimigos para outra, sem tempo para respirar, num filme cheio de acção e violência. E se esta primeira descrição corre o risco de tornar a proposta enfadonha, o filme salva-se a si próprio percebendo que tudo isto é impossível sem sentido de humor e acrescenta uma dose generosa de personagens divertidas e diálogos sarcásticos (além do bom gosto musical, sempre a tocar no foleiro).
É exactamente isto que impede que o filme caia no ridículo completo sendo que, mesmo assim, não é para todos os gostos: é muito violento e não pára para respirar. Dito isto, a semelhança com um jogo de computador - que não destoaria de qualquer colecção actual - acaba por me deixar a fazer a pergunta inevitável: o que seria melhor, ver Hardcore ou jogar Hardcore? A resposta é absolutamente inevitável.
O filme é cansativo apesar de uns nós - relativamente previsíveis - no enredo e não consegue sair daquilo que parece ser: uma corrida doida na primeira pessoa com pausas para a história. E se ainda não temos anos de depuração da arte dos videojogos para saber exactamente o que é que se passa quando estamos a lidar com um, podemos dizer com certeza que as preocupações do mundo do cinema estão muito longe daquelas que nos são apresentadas no filme. E acaba por ter um sabor amargo principalmente por esta razão. É uma boa ideia para jogar, para pegar no comando e encarnar Henry, destruir e desmontar onda após onda de soldados russos e cyborgs, passar por situações cada vez mais alucinantes, cheias de adrenalina e, pelo meio, conhecer personagens com piada que nos indicam onde é a próxima missão.
Mas é um filme. Só posso ver e sentir estas coisas por empréstimo. Acaba por ser tão bom e emocionante como aquelas tardes em casa do amigo que não nos deixava jogar e, em vez disso, nos obrigava a ficar a assistir enquanto ele completava nível após nível.
Mas é, se não for mais nada, um filme diferente, que tenta fazer algo de novo. Apenas por isso tem o meu voto de sucesso, no meio do mar de sequelas e derivações em que nadamos. Mas, e lembrando-nos que os empréstimos e as inspirações inter-artes sempre serviram para tornar obras e criadores mais ricos, não podemos perder a noção do que é elementar, porque é que um filme e um jogo são o que são e não um livro ou um quadro e, sobretudo, não nos esquecermos disso a meio do caminho, para chegar ao fim com um filme que seria muito mais divertido se saísse na Playstation em vez de no cinema.
Título Original: Hardcore Henry
Título Português: Hardcore
Género: Ação/Sci-Fi
Realizador: Ilya Naishuller
Elenco: Haley Bennett, Sharlto Copley, Danila Kozlovsky
Distribuidora: Big Picture