ESTREIA a 07 de abril de 2016
Avaliação crítica: XXXXX
Verdade é um filme sobre a integridade jornalística e, mais importante, sobre se esta pode sobreviver num mundo recheado de pressões políticas. Um mundo no qual a verdade deveria ser o único objectivo da missão de um repórter mas onde tem de competir com os, mais lucrativos, programas de variedades e medicina alternativa.
Cate Blanchett é Mary Papes, repórter do aclamado programa de investigação jornalística 60 Minutos, o último bastião da integridade e ética da profissão. Auxiliada pelo igualmente aclamado Dan Rather - pivot do telejornal e entrevistador do 60 Minutos - Mary lança uma investigação sobre a carreira militar do então presidente George W. Bush, levantando suspeitas, nomeadamente, sobre a natureza da sua formação na Guarda Nacional.
Se num primeiro momento tudo parece correr sem problemas, a investigação - e alegações - não tardam a ser postas em causa devido a um único documento, usado como prova. O assunto central da investigação, o núcleo que poderia custar a um presidente o seu mandato, dilui-se em discussões sobre quebras de linha e marcas de fotocopiadoras, colocando da mesma forma as imaculadas carreiras de Mary e Dan em risco.
Mais do que ser um filme interessante, o filme levanta uma série de questões interessantes. Ao problema da verdade vs. pressões políticas - que este ano já foi assunto de Spotlight - juntam-se outros problemas.
O primeiro, assunto central do filme, sobre a própria natureza da informação e meios de comunicação modernos: pode toda uma investigação ser posta em causa por falhanço de uma das partes? A suspeita sobre a carreira militar de Bush não desaparece, como se de um puzzle completo fosse tirada uma peça não faria desaparecer a imagem. Mas tudo cai por água abaixo quando a luta pelo pedaço de informação mais novo, mais sumarento nos faz perder de vista a questão mais importante. Em rima com este tema, também a própria Mary Papes é posta em causa ao longo do filme. Da mesma forma que a sua investigação, a sua personalidade e os seus motivos, são julgados através de rótulos simplistas - é uma feminista liberal de esquerda - não por aquilo em que verdadeiramente acredita, mas porque aqueles que neste momento preciso a defrontam não o são.
São temas interessantes e profundos, temas que Spotlight não explorou, ficando-se pela busca da verdade vs. pressões interiores e exteriores. A forma como todo o trabalho destes excelentes jornalistas é posto em causa por pormenores irrelevantes poderia sentir-se como uma espiral infinita, como um sonho em que se cai sem sentido. Mas, ao contrário de Spotlight, a realização e o argumento não estão à altura das questões que pretendem levantar, satisfazendo-se com um drama que, à primeira vista, nada teria de excepcional.
É, apesar disso, um exemplo incrível da influência que os actores têm no produto final: as prestações de Cate Blanchett e Robert Redford carregam o filme às costas lembrando-nos porque é que são excelentes actores. E, para bem do filme, agem como os pequenos pormenores que nos vão fazendo esquecer a big picture.
Título Original | Truth Género | Drama / Biografia Argumento e Realização | James Vanderbilt Baseado no Livro “Truth and Duty: The Press, the President, and the Privilege of Power” | Mary Mapes Elenco | Cate Blanchett, Robert Redford, Topher Grace, Dennis Quaid, Elisabeth Moss, Bruce Greenwood Produção | Bradley J. Fischer, William Sherak, James Vanderbilt, Brett Ratner, Doug Mankoff, Andrew Spaulding Produção Executiva | Mikkel Bondesen, James Packer, Neil Tabatznik, Steven Silver, Antonia Barnard
Distribuidora: NOS Audiovisuais