ESTREIA a 21 de abril de 2016
Avaliação Crítica: XXXXX
É um mistério como é que filmes assim continuam a ser feitos ou quem os faz e porquê. Sem originalidade, sentido de humor ou qualquer tipo de impulso ou dedicação visível que nos façam entrever a razão que leva alguém a dedicar-se a levar um filme de animação às salas de cinema.
Por parecenças com o décor do filme - ilha deserta - dei por mim a pensar em Tarzan da Disney e na minha experiência pessoal com o filme, na magia dos ambientes, na banda sonora energética, que me emocionaram tanto há 17 anos que ainda hoje são capazes de ressuscitar essas sensações antigas e despoletar outras novas; quer seja o Luís Represas ou o Phil Collins a narrar, a cena em que o rapaz-gorila vê pela primeira vez os slides do mundo exterior, das estrelas, percebe que ele (e o seu mundo) é muito maior do que alguma vez sonhara, levanta um turbilhão de emoções mas certamente não deixa ninguém indiferente. Dizer tanto com tão pouco, quer a jovens quer a adultos, é uma das melhores marcas da Disney quando está no seu melhor. Seria injusto estabelecer assim a barra para o resto do cinema de animação? Talvez sim (e talvez não), o que em nada escusa o deserto de ideias e sentimentos que é Robinson Crusoe.
Não arrisco dizer que é aborrecido para uma criança, de todo. Mas se há coisa que o cinema “para crianças” tem provado consistentemente uma e outra vez - e não apenas pela mão da Disney - é que pode fazer muito mais do que provocar a quase inevitável, e fácil, gargalhada infantil e, mais importante, que as crianças merecem muito mais do que o facilitismo. Merecem trabalhos cuidados, que transmitam valores estabelecidos - a amizade, a lealdade - ao mesmo tempo que exploram ideias novas e perguntas sobre o mundo e eles próprios.
Isto é tudo o que Robinson Crusoe não é. É absolutamente banal e desprovido de imaginação. Sabe a filme feito por uma comissão que ordenou um estudo de mercado antes de escrever o argumento. E, mais uma vez, tenho de perguntar: porque é que este filme foi feito? Onde está a ideia, a vontade, o amor pela história que leva alguém a querer que o filme exista? Queremos mesmo reduzir o entretenimento que oferecemos a crianças a uma coisa amorfa e feita por medida? Julgo não estar sozinho quando reclamo um pouco mais de cuidado para aqueles de nós que não podem escolher os filmes sozinhos e que, como neste caso, vêem frequentemente o seu cinema ser reduzido ao simplório “filme para crianças”.
Distribuidora: Big Picture Films