Aprender a tocar viola tem sido das analogias mais práticas que senti na pele para o que é a vida. Tudo começa por algum interesse, tinha vontade de aprender, gosto de cantar e queria conseguir criar músicas minhas. A vontade de aprender e criar algo novo estava instalada. Procurei ajuda, um professor...alguém que domina a arte e que me podia ajudar. Enquanto eu escrevia apenas com simples vogais ele falava-me em 5 alfabetos diferentes, e a minha frustração era mais que muita. Não o entendia, não conseguia fazer nada, comecei a sentir que seria impossível, afinal, concretizar esse meu desejo. Delicadamente desisti de ajudas externas. Sozinha enfiei-me no meu casulo e comecei a explorar o instrumento à minha maneira, sem pressões, sem metas, sem noção de nada, mas disfrutando da descoberta que acontecia lenta mas constante. De repente os dedos que antes parecia paus de gelado começaram a ganhar um tom de plasticina e ficaram mais suaves, móveis, vivos. O barulho que me saía das mãos aos poucos ía soando a uma nota ou outra. Num momento, que não sei como aconteceu porque não teve propriamente um início nem um fim, já se ouvia música. E que felicidade! Que satisfação! Que alegria! Afinal o impossível não existe. Afinal tudo acontece se houver vontade e tempo dedicado à expressão dessa vontade.
Quanto mais aprendo e mais consigo fazer, mais me apercebo das minhas falhas, do que não sei, do que há a melhorar. O que outrora parecia bom agora parece mau...até vergonhoso....como fazia aquilo? Sigo na certeza de que não há um fim, e que cada fase me faz ver as anteriores de uma nova perspetiva, que a linha é sempre ascendente embora se sintam todas as quedas, mais até que a constante subida. Sinto a perfeição inatingível, e estou feliz na simplicidade da tentativa e erro, que só me tornam mais perfeita na total imperfeição. Há fases em que páro, em que sem que haja uma decisão consciente largo o intrumento por algum tempo. Mas a aprendizagem não pára. Há qualquer coisa no nosso cérebro que continua a explorar ligações e a criar novas melodias com as mesmas peças. Quando volto a agarrar na viola descubro que sei mais do que sabia quando a larguei sem nunca lhe ter tocado nesse intervalo. Do caos nasce a ordem, nessa ordem noto o caos, desse notar brota nova noção de ordem..um inesgotável mar de movimentos que se constroem uns sobre os outros em perfeita harmonia, não fosse o mar completo em si. Moral da história: tu és o teu maior professor, tu tens o teu próprio ritmo (que não é igual ao de ninguém), as descobertas acontecem no momento que têm de acontecer, há um fluir natural e constante que guia invisivelmente as nossas vidas, a aprendizagem é algo a que não se consegue escapar mesmo quando te achas parado, a linha de evolução da tua maturidade é sempre ascendente mesmo nos aparentes desastres, o que foi certo num dia não é no outro, o que achas que sabes tão bem deixa de o ser quando aprendes um pouco mais, não há fim para o conhecimento... "Enjoy your life!!! Do what you love!! Have no fear!"