Passear, comer, viajar, viver, estar... coisas que, dizem, só fazem sentido com alguém. Comer sozinho é deprimente, viver sozinho é triste, passear sozinho é aborrecido. Dizem. Dizem os que gostam de companhia, os que gostam de conversar, os que se animam com a presença de alguém - um amigo, um conhecido ou mesmo um desconhecido.
Mas será que este desejo constante pela presença de alguém em todas as situações, mesmo que às vezes seja só um desconhecido ou um amigo do amigo - mas que nos permite entrar num espaço sem sermos o centro das atenções, ou ir ao cinema sem sermos olhados como loucos, sair para dançar à noite sem ter medo do desconhecido - será que esse desejo não nos impôs a sociedade?
Será que a ânsia da companhia que sentimos não será um medo de estar com nós mesmos? Afinal que mal tem comer numa mesa desocupada, se eu gosto de saborear a comida sem distrações, sem falar com ninguém (afinal estou de boca cheia)? Que mal tem ir ao cinema apreciar um filme e um balde de pipocas sentado entre dois desconhecidos e não entre um desconhecido e um amigo? Afinal a sala estará cheia na mesma e de qualquer forma não se pode conversar! E os passeios? As viagens? Esses momentos perfeitos para nos acompanharmos a nós mesmos, irmos onde decidimos ou mudar de rumo rapidamente, ás vezes que se quiser e sem justificações. Demorar o tempo que nos diz o nosso desejo, ouvir os nossos pensamentos, apreciar o que somos porque temos tempo de nos ouvir, de escutar o interior. Talvez quem tem medo de estar só fuja apenas de um interior desconhecido, que nunca se atreveu a escutar atentamente ou que não lhe pareceu por si só uma companhia.
Mas quem é feliz com o seu próprio ser, desfruta da sua própria companhia, do seu mundo interior. E não precisando da constante presença do outro toma decisões mais facilmente e acaba até por apreciar mais a companhia alheia, pois escolhe-a e tem-na quando realmente sente prazer nisso, e não por necessidade. É no fundo mais feliz e faz mais feliz o outro. Inclusive nas relações, dois solitários juntos são companheiros, mas duas pessoas que não sabem estar sozinhas são dependentes. Aprender a estar sozinho é uma arte - que nasce com alguns e precisa ser aprendida por outros. Afinal "a única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo". [if !supportLineBreakNewLine] [endif]