Gustavo Santos é conhecido pela sua forma de pensar e de falar. Pouco convencional, um homem feliz, como ele próprio se caracteriza, está a viver uma grande fase da sua vida: vai ser pai e o seu último livro, “Ama-te”, publicado há dois meses está a ser um sucesso de vendas. Conheça melhor este homem grato, livre e apaixonado.
M.A.D.E magazine: Como te defines enquanto pessoa?
Gustavo Santos: Em primeiro lugar sou um homem feliz. Isto quer dizer que também tenho momentos de frustração, de desilusão, em que há coisas que me custam a aceitar mas sentirmo-nos frustrados naquele momento não quer dizer que deixemos de ser felizes. Sou um homem feliz, há muitos anos, já desde que escrevi o meu primeiro livro “Carta Branca”. Aprendi que só dependia de mim para sê-lo.
Quando não estou a conseguir chegar a algo ou as coisas não estão a acontecer no tempo que eu quero, já consigo criar atalhos, para que rapidamente volte ao estado inicial, o estado de felicidade.
Sou um homem muito grato à vida, muito apaixonado, o prazer é fundamental. Respeito-me acima de tudo e todas as coisas. Um dos princípios da felicidade é respeitarmos sempre as nossas vontades e nós, como somos amor, não temos vontade de magoar os outros. Se eu tiver alguém ao meu lado e tiver um sonho e a luta pelo meu sonho magoar a pessoa que estiver ao meu lado é porque a pessoa não consegue acatar o meu sonho, logo essa pessoa não é a certa para estar ao meu lado.
Sou muito leal aos meus valores. Sou um homem livre, tenho um relacionamento maravilhoso, vou ser pai e isso não me impede minimamente de ser um homem livre. Eu acordo todos os dias e vou de encontro aquilo que me faz feliz. Sou claramente também um homem de missão.
M.A.D.E magazine: Sentes-te um homem concretizado?
Gustavo Santos: Para os meus 39 anos, claramente. Sou um homem feliz, a caminho da paternidade, com 8 livros escritos. Não sou um homem indiferente em termos sociais. Há pessoas que gostam muito e há pessoas que não gostam nada e isso quer dizer, de alguma forma, criei alguma mudança. Isso tem a ver com a minha missão. Mas tenho a certeza que o melhor ainda está para vir.
M.A.D.E magazine: Tocas as pessoas, quer gostem ou não, como tu disseste. Porque é que achas que consegues chegar a tantas pessoas?
Gustavo Santos: Eu não ponho máscaras. O que falta neste mundo são pessoas autênticas, que não tenham problemas em mostrar o que sentem. Esse é um dos meus grandes trunfos, que deveria ser o trunfo de toda a gente, porque nós já nascemos com ele. Penso que é por isso que toco tantas pessoas, de forma boa ou de forma má, é porque não tenho medo de dizer aquilo que penso e aquilo que sinto.
M.A.D.E magazine: Sempre foste assim?
Gustavo Santos: Não, claro que não. Quando era mais novo era gago, não comunicava. Agora rio-me disto e até acho que me dá uma certa graça (risos).
M.A.D.E magazine: Que sonhos achas que ainda te faltam realizar?
Gustavo Santos: Neste mês de Abril fiz coisas inacreditáveis. Fui ao Brasil como único orador estrangeiro e daí já surgiram mais três convites para ir mais três vezes ao Brasil, devido ao sucesso extraordinário desta ida. Publiquei também o meu primeiro livro lá, no Brasil. Soube que ia ser pai. Portanto, de repente, “mês de Abril sonhos mil”.
Cada livro meu é um sonho que eu ponho “aqui” fora. Cada viagem minha é um sonho que eu ponho “aqui” fora. Um dos meus sonhos é ter um espaço onde os sonhos dos outros também possam acontecer. Um espaço ao ar livre, como uma quinta, onde possa fazer um trabalho espiritual, uma ligação com a natureza e a nós mesmos.
M.A.D.E magazine: Os livros que já escreveste, eles são fases da tua vida?
Gustavo Santos: Claro. Todos os livros são autobiográficos, inclusive os romances. Não é nada completamente criado da imaginação. No “Arrisca-te a Viver”, no “Agarra o Agora”, em “ O Caminho”, no “A Força das Palavras” e no “Ama-te” já é tudo “eu”. É precisamente aquilo em que eu acredito. Como homem feliz sinto que tenho a obrigação de passar essa mensagem às outras pessoas. No entanto, jamais imporei a minha verdade às outras pessoas. Ela é minha mas, se comigo resulta, se calhar se eu a partilhar com os outros ela também pode resultar com eles. Eu exponho e nunca imponho.
M.A.D.E magazine: Qual o feedback que estás a ter do “Ama-te”?
Gustavo Santos: Está a bater todos os recordes para mim, enquanto escritor. O livro saiu há dois meses e já vai na 5ª edição. Tem estado sempre no TOP FNAC e TOP Bertrand, com alguns primeiros lugares. Isto é extraordinário para um livro que fala sobre o amor-próprio, que é algo que quase não é falado.
Não conheço ninguém que seja uma voz tão alta a falar de amor-próprio, em Portugal. É por isso também que “levo muita porrada”, porque quem promove e exprime o amor-próprio é muito mais atacado do que quem promove o próprio medo.
O amor-próprio não é uma coisa muito bem vista. Quem assume o amor-próprio é alguém que se assume como dono da sua vida, logo pode fazer o que quer e a sociedade e a religião não gosta disso.
M.A.D.E magazine: O amor-próprio é algo que nos faz falta?
Gustavo Santos: Não. É tudo o que nos faz falta! Passamos séculos a por as outras pessoas à nossa frente. As outras pessoas são tão especiais como nós mas esta é a nossa vida. Se há algo que tu queres e há algo que eu queira, eu ponho à frente aquilo que eu quero. Não é que ninguém seja mais do que ninguém mas na tua vida têm de reinar as tuas vontades.
M.A.D.E magazine: Achas que, para a sociedade, pormo-nos em primeiro lugar é visto como um ato egoísta?
Gustavo Santos: Claro, porque é assim que somos formatados. Nós nascemos para amar mas somos formatados para sofrer. Educam-nos para que os outros sejam a prioridade, temos de ajudar os outros a realizar os seus sonhos. Basicamente, ensinam-nos a não magoarmos os outros mas ninguém nos ensina a não nos magoarmos a nós.
A minha sugestão é: durante um dia faz tudo o que quiseres: vai onde queres, come o que queres…garanto-te que a partir daí a tua vida muda num estalar de dedos. Quando te conectas com o teu eu já não queres outra coisa.
Egoísmo é eu exigir que tu penses primeiro em mim e depois em ti. E se não olhares para mim primeiro eu vou-te julgar e vou-te cobrar.
M.A.D.E magazine: É assim que vais educar o teu filho/filha?
Gustavo Santos: Tenho trabalhado muito em escolas. E tenho-me apercebido que quando os miúdos não abraçam é porque não há abraços em casa, quando não comunicam é porque não há comunicação em casa. Anteontem li uma notícia que dizia que 20% das crianças estão em depressão. É mentira. São muitos mais!
Eu pergunto nas escolas, a 200 miúdos, “quem é que aqui é feliz?” e ninguém levanta o braço. E para além de serem mais do que 20%, estamos a medicá-los. Medicar putos de 15, 16, 17 anos?
Estamos todos a circular no ritmo do medo e a minha proposta é circularmos ao ritmo do amor. A minha proposta é eu – pai/ eu - mãe vou explicar ao meu filho o que é o afeto. Mas como é que explico ao meu filho o que é o afeto se já não amo a pessoa com quem estou? Há muitos casamentos onde já não há amor e os miúdos vão modelar essa ausência de amor e entram em depressão. Não há mal nenhum em o casamento acabar se não há amor. Temos de trabalhar com os pais para depois trabalharmos com os miúdos.
A minha história pessoal passa exatamente por aí. Eu vivi a minha vida toda com a minha mãe e com um homem, que não era o meu pai, e eles nunca se amaram. Dormiam em camas separadas, havia gritaria, havia violência e para mim o amor era aquilo. Quando fui conhecendo as primeiras raparigas e começava a sentir um bocadinho mais, ia-me embora porque já sabia onde é que aquilo ia dar.
M.A.D.E magazine: Quando é que viste que o amor não era isso?
Gustavo Santos: Quando me permiti a experimentar. Se há algo que não é derrotável é o amor. Se tens medo de algo permite-te experimentar. O amor é o caminho e quem sabe isso não se expressa porque tem medo de ser rejeitado, de ser magoado. Eu não tenho medo, só uma bala me cala e será sempre assim.
M.A.D.E magazine: O que é que tencionas fazer para mostrar às pessoas que o amor é o caminho?
Gustavo Santos: Primeiro tenho de ser o exemplo. Os meus livros, as minhas relações, tudo seguirá esse caminho do meu exemplo
M.A.D.E magazine: Há algo na tua vida que tu não ames fazer?
Gustavo Santos: Não. Nem um simples almoço de família. Se não me apetece ir não vou. E ai de quem me cobre porque essa pessoa é que está a ser o egoísta. Vou para um lugar onde não quero estar para fazer o quê? Para me desrespeitar?
M.A.D.E magazine: Ainda te lembras como foi quando começaste a dizer “não, eu não vou porque não me sinto bem aí”?
Gustavo Santos: O início de um processo destes começa sempre quando estás no fundo do poço. Já estive lá…aquilo é feio, perigoso e não interessa. Quando começas o processo tu tens um mundo que achas que conheces, um conjunto de pessoas que achas que gosta de ti, pessoas que estão preparadas para fazerem o que querem de ti. Quando começas o processo o teu mundo vai ruir. Pelo menos vai ruir grande parte. Aí tu vais perceber quem é que está contigo porque realmente gosta de ti. Quem é que só está contigo porque está habituado a fazer de ti aquilo que quer.
M.A.D.E magazine: Houve muita gente a sair da tua vida?
Gustavo Santos: Sim, claro. Também houve gente que entrou. Não há mal nenhum em as pessoas saírem da tua vida se te fazem mal. Faz mal é elas lá continuarem.
M.A.D.E magazine: E conseguiste também transformar pessoas…
Gustavo Santos: Transformar não. Isso é uma grande responsabilidade. Eu motivo pessoas. Ensino e aprendo.
M.A.D.E magazine: Qual é a mensagem que queres passar com este livro, “Ama-te”?
Gustavo Santos: O título já diz tudo. O ideal é colocar cada pessoa, cada rua, cada cidade deste país a amar-se. Este livro é uma proposta para que as pessoas comecem a colocar-se a elas em primeiro lugar. A grande chave da vida é amares-te a ti para depois amares os outros.