ESTREIA a 16 de junho de 2016
Avaliação Crítica: MMM--
Em E Agora Invadimos O Quê? Michael Moore revela mais uma vez que é um excelente documentarista, com um domínio espectacular do formato. Contudo, e ainda ao jeito de Michael Moore, revela também a manipulação tão característica dos seus filmes, mais fortes pelo seu jeito natural para o fazer, é certo, e simultaneamente mais fracos porque é impossível assistirmos às imagens - ora de uma Europa utópica, ora de uns Estados Unidos moribundos - e não pensar “espera lá que as coisas não são bem assim”.
É, neste sentido, um filme muito em linha com o trabalho anterior do realizador - nomeadamente Sicko, em que Michael Moore também viaja para a Europa com o objectivo de estabelecer comparações entre os sistemas de saúde nos dois lados do Atlântico - mas com uma atenuante, no caso de E Agora Invadimos O Quê? que, aquando do desenlace, alivia um bocadinho este sentimento de uma imposição moralista e absoluta do filme.
Explicando: no filme Michael vai viajar por diversos países do velho continente com o objectivo de encontrar as melhores ideias de políticas sociais, que ele gostaria de roubar para o seu próprio país, com o qual vai estabelecendo comparações. Mas no final descobre que todas estas ideias já foram afinal descobertas na sua terra-natal, que estes ideais europeus fazem parte da mesma família ideológica, dos defensores dos ideais da constituição. Afinal são os Estados Unidos que se estão a afastar do ideal original (e não seria Michael Moore um verdadeiro americano se não acabasse por ilibar o seu próprio país) e é nesta nota de Paraíso Perdido que termina o filme.
Portanto - e visto que Michael viaja por vários países pegando apenas em pormenores -, a mensagem torna-se um bocadinho menos pesada e é possível perdoá-lo por isolar, a um nível irreconhecível e grotesco, apenas os aspectos que lhe interessam. A isso ajuda ainda o mecanismo do filme (encontrar ideias e levá-las para casa) ser tão divertido e original.
E contudo… Contudo é um tema tão complexo, tão sério (pela própria pena de Michael que vai desde a violência da polícia americana até ao genocídio num passinho) que torna perdoar o flagrante relativismo e manipulação muito difícil.
Uma nota final para o Ministro da Saúde que Portugal nunca teve: Nuno Capaz, da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência em Lisboa é apresentado na legenda como Ministro da Saúde. Digam o que disserem, Michael Moore sabe muito bem como fazer filmes.
Título Original: Where to Invade Next