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Entrevista a Gabriela Oliveira


Gabriela Oliveira

Gabriela Oliveira, é a autora referência em Portugal na área do vegetarianismo e alimentação saudável. Todos os livros anteriores da Gabriela Oliveira são verdadeiros best-sellers.


Gabriela Oliveira nasceu em 1975, no Norte de Portugal. Vive em Lisboa, tem três filhos e tornou-se vegetariana há quase duas décadas.


É licenciada em Comunicação Social e colaborou, como jornalista freelancer, em várias publicações, como os semanários Sol e Expresso, e as revistas Pais & Filhos e Notícias Magazine (do Diário de Notícias e Jornal de Notícias). Os seus trabalhos centram-se, sobretudo, nas temáticas da alimentação, do ensino e da família.


É autora dos livros Alimentação Vegetariana para Bebés e Crianças (Arteplural, 1996, 2011), Avós Precisam-se – A importância dos laços entre avós e netos (Arteplural, 2012), Cozinha Vegetariana para Quem Quer Poupar (Arteplural, 2014) e Cozinha Vegetariana para Quem Quer Ser Saudável (Arteplural, 2015).


Adora escrever e comunicar, bem como o desafio de criar receitas e de as fotografar.

Realiza workshops de culinária e apresenta uma rubrica semanal com receitas vegan no programa A Praça, na RTP, continuando a idealizar um mundo melhor.


Fizemos algumas questões que preocupa sempre alguém que não tem este tipo de alimentação e muito mais quando se dirige às nossas crianças.


M.A.D.E magazine: A Gabriela já é conhecida pelos livros de receitas vegetarianas. Ser vegetariana influenciou a sua escrita de que forma?

Sou vegetariana há 19 anos. Tomei a decisão quando estava a terminar o curso na universidade. Na altura, estava a conversar com um amigo e apercebi-me que existiam alimentos alternativos que podiam fornecer as proteínas e os nutrientes de que precisamos.

A conversa tocou-me de tal forma que mudei de um dia para o outro, já não conseguia continuar a mastigar a carne sem pensar nos animais. Enquanto jornalista acabei por escrever muitas vezes sobre o tema, pois na altura não havia muita informação no nosso país sobre vegetarianismo.


M.A.D.E magazine: Quais as razões que a levaram a escrever este livro?

A vontade de ajudar as famílias a dar uma alimentação mais saudável às crianças, focada em alimentos de origem vegetal. Também recebia muitos pedidos de informação por parte de famílias vegetarianas e de famílias com crianças com intolerâncias e alergias alimentares, que tinham dúvidas sobre como substituir a carne, o peixe, os ovos ou o leite. O livro foi pensado tanto para as famílias com uma alimentação dita tradicional como para quem é vegetariano ou já conhece bem a culinária vegetariana, pois tem uma introdução com informação nutricional detalhada e um conjunto de 150 receitas que dão para todas as idades.


M.A.D.E magazine: Porquê só agora um livro com este tipo de alimentação para os mais novos?

Na verdade, puliquei um primeiro livro sobre o tema há 10 anos e entretanto esse livro esgotou e saiu de circulação. Este novo livro “Cozinha Vegetariana para Bebé e Crianças” vem substituir o anterior, pois é todo ilustrado, as receitas são diferentes e a informação nutricional foi atualizada em função das novas orientações pediátricas e dos novos alimentos que hoje se encontram disponíveis.


M.A.D.E magazine: O que pretende com este livro?

Incentivar as famílias a preparar muitas refeições vegetarianas não só para as crianças, mas também para os pais, pois, sendo mãe de 3 filhos, sei que o tempo é limitado e é importante podermos cozinhar em simultâneo para toda a família, criando bons hábitos desde a infância e aproveitando também para melhorar a nossa saúde. Hoje cometem-se muitos erros e excessos na alimentação e é fundamental ter alguns cuidados nos primeiros anos de vida, como evitar os açúcares e as gorduras saturadas. O livro tem muitas propostas que agradam às crianças e aos mais crescidos, apresentadas sempre de uma forma saudável, como as bolachinhas e os scones adoçados com tâmaras, os bolos de aniversário, pudins, gomas ou gelados, sem açúcares adicionados.


M.A.D.E magazine: Qual a sua opinião sobre o documento guia sobre a alimentação vegetariana para os mais novos, divulgado pelo ministério da saúde?

A DGS pronunciou-se favoravelmente sobre este tema, o que é de louvar. É importante não só para as famílias mas também para os técnicos de saúde que, muitas vezes, são os primeiros a reconhecer que têm poucos conhecimentos sobre o assunto. As principais

organizações internacionais de pediatria, como a americana e a canadiana, têm afirmado que uma alimentação vegetariana bem planeada é adequada para todas as idades e em todas etapas da vida. O tema é estudado desde há vários anos lá fora.

M.A.D.E magazine: Quais foram as principais preocupações ao escrever este livro?

Mostrar que as refeições vegetarianas podem ser fáceis de planear e preparar, económicas e saborosas. Também tive o cuidado de escolher apenas ingredientes saudáveis e que, na sua maioria, são fáceis de encontrar e acessíveis a qualquer família. Por outro lado, fiz uma pesquisa detalhada sobre as recomendações pediátricas em relação à introdução dos alimentos nos primeiros aos de vida. Ou seja, a partir de que idade podemos preparar refeições com leguminosas, dar tofu, quinoa, frutos secos ou sementes, por exemplo. Em cada receita está a indicação da idade e o valor nutricional.


M.A.D.E magazine: Como diferencia as receitas vegetarianas para bebés das receitas para adultos?

Na realidade, a maioria das receitas deste livro é adequada também para nós, adultos, basta reforçar um pouco os condimentos. Mas diferenciei as receitas sobretudo pela apresentação da comida (que tem formas mais divertidas para as crianças) e pela quantidade de sal ou de especiarias. Os bebés não devem consumir sal até aos 12 meses e a partir dessa idade podemos adicionar sal mas com moderação. Em nenhuma receita recorro a fritos, a alimentos processados ou ao açúcar.


M.A.D.E magazine: Como é que reage quando as pessoas mostram desconfiança em relação à alimentação vegetariana direcionada para as crianças?

Mostro factos e estudos de investigação. A carne e o peixe não são obrigatórios, podemos obter os nutrientes de que precisamos em fontes de origem vegetal, até porque existem muitos alimentos fortificados que podem ser incluídos nos menus. A resistência deve-se,

muitas vezes, à falta de conhecimento, a preconceitos e a uma visão antropocêntrica e especista ainda muito arreigada na cultura ocidental – tendemos a ver os animais e a Natureza como algo que nos pertence, que existe apenas para nosso benefício. Ora nós

somos apenas parte da Natureza, não estamos acima dela nem ela nos pertence. Depois existem fortes razões ecológicas, pois a produção pecuária intensiva é insustentável para o planeta, pelos recursos que absorve e pela poluição que gera, e não pode dar resposta a uma população mundial crescente.


M.A.D.E magazine: Qual o maior mito que chegou até si em relação a este tipo de alimentação e as crianças?

Talvez seja a ideia feita de que para obtermos proteínas precisamos de colocar no prato carne ou peixe. Nós precisamos é de nutrientes e estes podem ser obtidos através de alimentos de origem vegetal, como as leguminosas (feijão, grão, lentilhas, favas, tremoços...), os frutos secos (amêndoas, avelãs, nozes...), os cereais completos (quinoa, arroz integral, aveia...), para além de outros, como o tofu, o seitan ou o tempeh.


M.A.D.E magazine:Sabemos que certos nutrientes estão em menor quantidade nos alimentos vegetais como resolve esse problema?

Costumo dar dois conselhos, que são válidos em qualquer regime alimentar e para qualquer idade. Para obtermos proteínas completas, com todos os aminoácidos essenciais, é importante combinar as leguminosas com os cereais (por exemplo, arroz com feijão) e para

haver uma boa absorção do ferro, devemos incluir um alimento rico em vitamina C (por exemplo, tomate ou sumo de laranja) e evitar os chamados inibidores do ferro - os refrigerantes, o chocolate e o café - pois impedem a correta absorção do ferro quando são ingeridos na mesma refeição.

M.A.D.E magazine: A relação crianças e vegetais nunca foi pacifica, qual é a relação que as crianças de hoje têm perante uma alimentação vegetariana?

Partimos dessa ideia pré-concebida, de que as crianças vão rejeitar os legumes, mas isso é algo que é induzido por esta nossa sociedades de consumo que promove os alimentos industriais açucarados ou salgados e hipercalóricos. Se habituarmos as crianças desde cedo, desde os primeiros meses de vida, ao sabor natural e diferenciado dos legumes, da fruta, dos cereais, elas vão encarar e aceitar com naturalidade estes alimentos. Se pelo contrário, os pais não derem o exemplo e não adoptarem também eles uma alimentação saudável, e oferecerem aos filhos alimentos processados, cheios de açúcar, gorduras, conservantes, intensificadores de sabor e outros aditivos, estarão a preparar um terreno propício a problemas de saúde e de peso, que poderão vir a manifestar-se mais cedo ou mais tarde. O excesso de peso e a obesidade, e as inúmeras doenças associadas, assumem contornos muito preocupantes em Portugal, em todas as idades. Podemos prevenir, criando bons hábitos desde a infância, sem abdicar do prazer de comer bem.


Fotos cedidas pela autora.



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