ESTREIA a 23 de junho de 2016
Avaliação crítica: MM---
Maggie tem um plano. Não é um plano simples de entender, à vista desarmada. Passa, sem dúvidas, por ter um filho (custe o que custar) mas ficamos sem perceber se o desejo de ter uma vida familiar está incluído no plano ou não.
Não é este o pecado do filme, que explora o mundo labiríntico e confuso de uma das grandes questões do nosso século XXI: o que é uma família?
O plano de Maggie é, portanto, tão confuso para ela como para o espectador. Apaixona-se mas afinal estava enganada. Leva um homem casado a deixar a sua vida - na qual ele também deambulava infeliz, longe de cumprir os seus sonhos de escritor - para mais tarde o encaminhar de volta para os braços da ex-mulher, outrora uma inimiga fria e distante, agora uma aliada cheia de empatia e compreensão.
Cuida da sua filha e dos filhos do marido com iguais doses de amor e atenção. Pede a um ex-colega de escola que seja a metade silenciosa do seu projecto de inseminação artificial. E ele - que tal como as restantes personagens é um desajustado da vida moderna - apaixona-se por ela durante o processo estéril, sem que Maggie deixe entrever outra emoção que não seja recusa e indiferença.
Podia ser o enredo do novo filme de Woody Allen (e o filme, sem pecar, deixa à mostra a inspiração) que não ficaria mal ao lado de outros filmes do líder dos inadaptados do mundo moderno; os problemas de Maggie são reais e palpáveis. Sentimos o desilusão do ex-colega de escola com a mesma eficácia que vamos entrevendo a ilusão em que Maggie se vai enrolando. Mas se o filme apresenta estes problemas com alguma eficácia num primeiro momento, ficamos, ao longo do tempo, com a sensação de que é incapaz de os explorar satisfatoriamente.
Por outras palavras dali não vai sair nenhuma surpresa, tudo o que o filme tinha a dizer sobre estas questões profundas afinal já acabou e não chegámos a nenhuma conclusão. Se o filme no geral, como proposta, parece ambicioso, este poder perde-se completamente no particular; as cenas, personagens e seu desenvolvimento ficam muito aquém do desejável. Sofrem de uma doença fatal, a de fazerem as coisas que fazem e dizerem as coisas que dizem porque estão num filme e era assim que estava escrito no guião.
As banalidades em que o filme tropeça (homem desiludido com a sua vida que quer ser escritor, casal que fica preso durante um nevão) vão estrangulando o enredo e, no final, nem o desenlace surpresa é capaz de nos surpreender. Já só queremos sair do cinema e voltar às nossas próprias vidas confusas do homens e mulheres modernos, desapontados com um filme que, apesar das boas intenções, é incapaz de falar por nós, de ir ao encontro de preocupações e emoções que sejam significativas e, acima de tudo, reais.
Título Original: Maggie’s Plan