ESTREIA a 07 de julho de 2016
Avaliação crítica: MMM--
Não é fácil partir para uma crítica de Ou Todos Ou Nenhum com sentimentos de missão crítica; a comédia de Kheiron é realmente um filme divertido e humilde, daquela espécie cada vez mais em extinção que não finge ser algo que não pode ser, que trata realmente com carinho e preocupação as personagens e suas aventuras - ao que certamente ajudou se tratarem dos pais do realizador (mas nem isso seria suficiente para encorajar outros mais artisticamente inclinados). Ou Todos Ou Nenhum é até capaz de falar do passado profundamente politizado das personagens sem para isso partir para ideias ou lições politizantes que destoassem; o que está lá é exactamente o que parece, não há nada disfarçado ou escondido no fundo da intenção do realizador, não há nada que o desvie do objectivo principal: carinho pela história dos pais polvilhado com um excelente sentido de humor.
De quantos filmes podemos dizer isto? Será possível contar pelos dedos de uma mão os filmes que não nos tentam impingir alguma lição de vida ou moral no meio de enredos simplórios e repetitivos? É sempre possível afirmar que sim, que até Ou Todos Ou Nenhum tem um conteúdo político e uma mensagem ou uma inclinação. Não o duvido e considero um sinal de vida importante por parte do realizador. (Os filmes feitos por robôs também se tornaram uma praga infeliz.) Mas aquilo que lhe falta é uma agenda. E ainda bem porque é muito melhor sem uma e, adoptando outro ponto de vista, nunca seria suficientemente bom para se gabar de ter uma.
A verdade é que não é um excelente filme de comédia. Existem momentos verdadeiramente divertidos mas a maioria não consegue sair do registo do sketch humorístico de ideias pouco originais e personagens-tipo. A língua francesa - e o estilo próprio interpretação dos seus actores - tornam alguns momentos muito mais engraçados (os contornos mitológico-cómicos que a revolta de Hibat e o seu bolo adquirem nas conversas dos jovens franceses vêm-me à cabeça como um bom exemplo) mas não conseguem dar uma verdadeira identidade única ao filme ou ao trabalho do realizador.
O lado dramático do filme tem o mesmo problema: é bruto de uma superficialidade anestesiante. Se é possível argumentar que essa é a única forma de adaptar o tema à leviandade divertida do filme também é possível verificar que o resultado é uma experiência cinematográfica tão divertida como esquecível.
O maior trunfo de Ou Todos Ou Nenhum é o que fica na fronteira do filme, o que está de fora e de dentro ao mesmo tempo: o carinho do realizador pelos pais. O filme não é mais que um altar para uma família unida.
Nota para mais uma tradução portuguesa do título idiota sem razão para tal. Nous Trois Ou Rien resume muito bem o espírito do filme: uma família unida, pessoas que se amam e, além disso, nada mais interessa a Kheiron.
Realizado e Escrito por: Kheiron
Elenco: Kheiron, Leila Bekhti, Gérard Darmon, Zabou Breitman
Distribuidora NOS Audiovisuais