"...esse mesmo sentimento de culpa e de vergonha, é como se fosse um produto que vendemos, mas que foi retornado à loja por ter um pequeno defeito. ..."
Muitas vezes, estes dois sentimentos chamados Culpa e Vergonha, andam de mãos dadas. Começam como sendo um conflito externo, e como os alicerces internos não estão fortes, abalam toda a nossa estrutura.
Quando essa estrutura abana, significa que precisamos ouvir-nos, sentir-nos, ler-nos. Conseguir parar e ver toda a acção a passar à nossa volta em câmera lenta, faz com que o nosso cérebro consiga processar toda a informação existente desse conflito externo, e que assim possamos ouvir o que esse impacto nos quer dizer. Saber ser e estar sem qualquer um destes sentimentos, culpa e vergonha, cria no nosso interior exactamente o seu contrário, confiança. Esta palavra pode ser interpretada como sendo a força vital da acção, mas também, como sendo a que realmente liberta.
Quando alguém é julgado em tribunal e é declarado culpado, é-lhe dada a oportunidade de pagar a sua liberdade antes do seu julgamento, poder fazer a troca entre estar na prisão, ou estar livre no seu dia-a-dia até ao julgamento. Assim, essa pessoa paga a "fiança". É "com-a-fiança" que se é livre até ser julgado. Confiança é o que temos de usar em troca de sermos livres no nosso dia-a-dia, até ao julgamento final das nossa acções.
Sem termos este pilar bem definido e estruturado em nós, qualquer rabanada de vento vem para destruir de uma assentada o que nos sustenta. Isso acontece, muitas das vezes, por não estarmos em Paz e em Equilíbrio connosco próprios. Existe um conflito resultante dentro de nós, que nos torna ambíguos e ao mesmo tempo banhados de luz e imersos na nossa própria sombra. Quando sentimos que esta sombra se está a querer apoderar de nós, queremos lutar com ela, sentimos medo desse apego e entramos em conflito connosco mesmos. Essa mesma sombra é nossa, faz parte de nós. Ela é criada pela nossa própria luz que simplesmente está a ser emitida pelo nosso subconsciente, o nosso "self", para nos mostrar que há algo que necessita de ser revisto e analisado. Negamos este sentimento de culpa e de vergonha ao invés do aceitarmos e de dizermos para nós mesmos "Eu sinto-me assim!".
Imaginemos que esse mesmo sentimento de culpa e de vergonha, é como se fosse um produto que vendemos, mas que foi retornado à loja por ter um pequeno defeito. Quando o recebemos, analisamos o porquê do defeito, qual a razão, e envia-se para reparação. Essa mesma reparação, leva à análise de quem o fez, ou de quem sabe operar com ele, e que, vai encontrar a questão base desse defeito e vai repará-lo.
Connosco é exactamente igual, apenas não nos enviamos para reparação. Preferimos estar com esse erro dentro de nós, metido numa caixa lá num canto refundido e que nunca mais o vejamos. Acontece é que esse erro, esse pequeno defeito que decidimos não reparar nele, virá manifestar-se num futuro próximo, requerendo mais tarde um maior nível de atenção e de dedicação para ser reparado.
Na verdade, o que este sentimento de Culpa e de Vergonha quer, é atenção para ser aceite. Simplesmente pedem para que sejam aceites como sentimentos que são e que fazem parte de nós.
Como energia que são, apenas pedem para fluir e serem colocados no departamento correcto.
A Culpa e a Vergonha, são como os guardas prisionais. Aprisionam a confiança e a liberdade, mas ao mesmo tempo, juntam-se a estas dentro da cela.
O primeiro passo é mostrar-lhes que existe vida fora da cela. Mostrar-lhes que existe uma forma natural e confortável de libertar as energias negativas que as assolam, ao invés de as acumular dentro das masmorras mais recônditas da mente.