Descobri porque gosto de dançar kizomba. Gosto de dançar. Provavelmente tudo, nem que seja um bocadinho. E tenho as minhas preferências e áreas de eleição. Hip hop, burlesco, pole dance... já são gostos conhecidos. Mas cada vez mais e mais tenho descoberto a dança a pares. Mais profundamente a salsa e a kizomba. Sendo que a salsa exige de mim mais treino e concentração, e tendo também algumas das características que vou atribuir à kizomba, esta última é-me mais natural, acompanha-me há mais tempo, e fala-me mais ao coração, e por isso é dela que falo. Além do ritmo que se entranha na pele quando começamos a dançar kizomba - sim, porque foi preciso começar a dançar para começar a gostar de ouvir. Nos meus 14 ou 15 anos já se ouvia kizombas entre amigos mas eu nunca fui grande fã... até ter experimentado dançar em 2007 e começar a ter uma pasta chamada kizomba no mp3. As kizombas de hoje são já muito diferentes, mais urbanas, mais modernizadas, e diriam muitos, menos tradicionais, mas confesso que são estas que, usando vocabulário "kizombesco": me batem forte!
Mas descobri então o que me fascina nesta dança a par: a conexão. Como em todas as danças a pares, existe uma condução por parte do homem e uma resposta por parte da mulher. Mas não conheço, e nunca experimentei, uma dança em que a condução pudesse ser tão subtil como a kizomba. Fascina-me o facto de duas pessoas conseguirem comunicar, mover-se a ritmo de um som - no fundo dançar - usando formas de comunicação tão subtís. Encantam-me essas formas de comunicação não verbais comuns às artes. Qualquer uma. Mas no caso da dança, no caso da kizomba, essa comunicação faz-se através de um movimento corporal subtil, de uma intenção, de algo tão invisível que a mim se me traduz como uma comunicação pela energia. É comum ver um par executar passos complexos e sequências rápidas e achar que é coreografado - quando não o é. Tudo aquilo é possível e está a ser escrito na hora. Escrito com energia numa linha feita de bases num caderno de ritmos. Tanto me fascina essa possíbilidade, como a condução mais subtil, em que a kizomba foge do espetáculo e se torna intimista. Não é para ser vista, é para ser dançada e interessa unicamente a quem a dança. Para quem observar, pouco estará a acontecer. Para quem dança, é uma ligação total que curiosamente não exige concentração, apenas disponibilidade. Torna-se automático, como ir a conduzir para casa. Não é preciso pensar. O mais pequeno movimento de condução tem uma resposta imediata no parceiro e duas pessoas tornam-se um só elemento por momentos.
Fascina-me esta comunicação quase puramente energética, esta possibilidade de "conversar" sem usar palavras, esta "magia" de que nos sentirmos fazer parte e que nos prova que somos muito mais que palavras, que personalidades, que nacionalidades. Que nos mostra que temos em nós ferramentas para nos entendermos que falam mais alto que muitas vozes. Falou-vos uma apaixonada pelas artes, que reconheceu neste estilo por vezes banalizado algo de muito elevado. E é nas coisas simples da vida que se escondem as maiores felicidades e revelações.
Agora vão experimentar e contem-me como foi!