Os animais são, cada vez mais, parte integrante do núcleo familiar atual. Se há várias décadas eram principalmente mantidos pela sua função de trabalho, agora são sobretudo alvo de estimação, especialmente nos meios urbanos.
A ideia geral de que o contacto com os animais nos é vantajoso não é novidade. Aquela relação próxima, de companhia, está realmente recheada de benefícios, que têm vindo a ser estudados. Parece ser simples, mas trata-se de uma relação que envolve grande variedade de disciplinas, pois pode influenciar as diferentes dimensões do indivíduo:
Nível físico
São inúmeros os trabalhos que investigam as diferenças entre tutores (proprietários) e não-tutores de animais de estimação em relação a indicadores de saúde física. Sabe-se que quem convive com um animal tende a apresentar menor pressão arterial, menor frequência cardíaca, menores valores de triglicéridos plasmáticos e a realizar caminhadas com maior frequência (em relação aos tutores de cães). Sendo estes fatores de risco para a doença cardiovascular, Levine et al. (2013) concluem que os tutores apresentam menor propensão para a desenvolver.
Também a sua influência no desenvolvimento de alergias é um tema em discussão. Por exemplo, a afirmação de que o contacto com um animal de estimação nos primeiros meses de vida pode reduzir a incidência de atopia nas crianças (Gern et al. - 2004) foi recentemente posta em causa (Carlsen et al. – 2012); as discrepâncias entre estes e outros resultados criam espaço para futuras investigações.
Nível psicológico
Os animais são famosos pela capacidade de nos oferecer o seu amor puro e incondicional. Embora o reconheçamos muitas vezes em jeito de brincadeira, a sua influência no bem-estar psicológico dos humanos é real e de extrema importância.
Recentemente, Gadomski et al. (2015) comprovaram que o contacto com um cão de estimação está relacionado com a diminuição da probabilidade de desenvolvimento de ansiedade na infância. Também em relação às crianças, os autores afirmam que aquele contacto promove o desenvolvimento da auto-estima, o alívio de stress, oferece suporte emocional e disponibiliza um confidente. Outros trabalhos evidenciam resultados semelhantes em adultos, bem como a importância dos animais no combate à solidão e na prevenção e apoio em estados depressivos.
Nível social
Neste âmbito, a investigação tem comprovado que os animais contribuem para o desenvolvimento do sentido de responsabilidade dos seus tutores, promovem a empatia, estimulam a comunicação verbal e não-verbal e, consequentemente, incentivam interações sociais.
Aliás, os tutores de cães, que costumam realizar passeios diários com eles, poderão confirmar que o animal é um fator desencadeador de conversa. Pessoalmente, tenho gosto em observar o grupo de vizinhos que ao final do dia, rotineiramente, se reúne no parque, cada um com o seu cão. É certamente um momento benéfico para os seus animais, mas, sem dúvida, ainda mais vantajoso para estes tutores.
A contribuição dos animais para o bem-estar dos humanos que com eles convivem acontece de forma dinâmica e complexa, pelo que haverá, certamente, ainda muito por conhecer e justificar. Os avanços na investigação têm trazido resultados fascinantes e muitos têm vindo a ser explorados no âmbito dos animais de serviço e da terapia por eles assistida, um tema interessante para um próximo artigo!
Carlsen K. C. L., Roll S., Carlsen K., … Keil T. (2012). Does pet ownership in infancy lead to asthma or allergy at school age? PLoS ONE, 7(8): e43214
Gadomski A. M., Scribani M. B., Krupa N., Jenkins P., Nagykaldi Z., Olson A. L. (2015). Pet Dogs and Children's Health: Opportunities for Chronic Disease Prevention? Preventing Chronic Disease, 12.
Gern J. E., Reardon C.L., Hoffjan S., … Lemanske R. F. (2004). Effects of dog ownership and genotype on immune development and atopy in infancy. Journal of Allergy and Clinical Immunology, 113 (2), 307-314.
Levine G. N., Allen K., Brauns L. T., … Lange R. A. (2013) Pet ownership and cardiovascular risk: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. DOI: 10.1161/CIR.0b013e31829201e1
Wells D. L. (2007). Domestic dogs and human health: An overview. British Journal of Health Psychology, 12, 145 - 156.