As Intervenções Assistidas por Animais (IAA) não são recentes; uma das suas primeiras referências data de 1790, a propósito da utilização de galinhas e coelhos na terapia de pessoas com doença mental, em Inglaterra. Em 1980, depois de quase dois séculos recheados de outras referências e de inovadores artigos científicos, é fundada a Delta Society, uma organização internacional, sem fins lucrativos, tendo como missão promover a saúde humana através de animais de serviço e de terapia.
Aquela organização alavancou a estruturação, a divulgação e a aplicação das IAA. Estabeleceu-se que as IAA englobam as Atividades Assistidas por Animais (AAA) e as Terapias Assistidas por Animais (TAA). As primeiras têm caráter lúdico e visam promover o bem-estar das pessoas envolvidas, podendo daí surgir efeito terapêutico, indiretamente. São exemplos as visitas a internados, comuns nos Estados Unidos, onde são explorados os benefícios do simples contacto com um animal (artigo de Julho), mas também as atividades de leitura: uma vez que o animal não julga a capacidade de leitura do aprendiz, este sentir-se-á menos receoso de ler em voz alta para aquele ouvinte, estimulando a sua prática e consequentes gosto e aperfeiçoamento.
Já nas TAA, os animais são parte integrante de um tratamento com objetivos específicos bem estabelecidos, planificado por profissionais de saúde e ciências humanas, sobretudo nas áreas de saúde mental, fisioterapia, enfermagem, terapia da fala e educação. A introdução de um animal bem treinado em cenário terapêutico implica o envolvimento dos afetos, o que favorece a motivação do paciente e, consequentemente, o empenho e a rapidez no alcance dos objetivos. Aliás, em relação ao autismo infantil, a psicóloga clínica Itana Cruz refere que “os benefícios deste tipo de intervenção não se prendem apenas com a presença do cão de terapia, mas com o facto de o cão conduzir a mais interações entre paciente e terapeuta”, das quais depende fortemente o sucesso do tratamento.
Os cães são a espécie mais utilizada nas IAA, presumivelmente graças ao seu temperamento naturalmente amistoso e recetivo ao treino, bem como à facilidade do seu acesso aos espaços onde se encontram os pacientes. Os cavalos também podem ser utilizados, sobretudo no trabalho da coordenação motora e equilíbrio dos pacientes, mas também no estímulo da sua autoestima e confiança, que surgem da capacidade de interação e de comando de um animal imponente como este. Embora não seja tão comum, pela sua tendência para a introversão e menor resposta ao treino, os gatos também podem ser utilizados; são-no sobretudo em AAA, estimulando o respeito pela sua natureza independente e tranquila, mas podendo atuar como ouvintes e “quebra-gelo” nas interações sociais.
Em contraste com os benefícios das IAA, as suas contraindicações são escassas: a fobia do paciente relativamente ao animal, a incapacidade do paciente se relacionar de forma apropriada com o animal e a existência de feridas abertas, alergias ou fragilidade imunitária da parte dos pacientes.
Embora noutros países sejam amplamente utilizadas, em Portugal as IAA estão algo limitadas a pequenos núcleos certificados para oferecer estes serviços, que me parecem ser pouco divulgados ou valorizados. É um trabalho multidisciplinar e que certamente acarreta bastantes recursos e algum investimento, mas, seguramente, seria vantajosa a integração destas alternativas, pelo menos, nos cuidados de saúde comuns.
Tavares E. M. M. P. (2013). Terapia assistida por animais: revisão bibliográfica. (Monografia apresentada à Universidade Católica Portuguesa para finalização da Licenciatura em Psicologia). Faculdade de Filosofia. Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional de Braga, Portugal.
Morrison M. L. (2007). Health Benefits of Animal-Assisted Interventions. Complementary Health Practice Review, 12, 51-62. DOI: 10.1177/1533210107302397.
Cruz I. Terapia Assistida por Animais e Autismo Infantil. Disponível em: http://www.vinculumanimal.pt/wp/wp-content/uploads/2016/01/terapia-assistida-por-animais-e-autismo-infantil.pdf
Webber L. (2008). The evidence supporting the use of Animal-Assisted Therapy (AAT). Disponível em: http://www.puppieswithapurpose.org/Resources/The-Evidence-Supporting-the-Use-of-AAT-Text.pdf