Sou um bêbado da vida, um viciado em emoções. Cada garrafa é pequena demais para a minha sede. Entrego-me ao vício como faminto se entrega ao pão. No momento, sem medo que ele termine, tragando dentadas do tempo que não se extingue. No fundo de cada garrafa o vazio... o vazio da última gota, da última prova, do último sabor. Mas que Universo belo este que me brinda com garrafas de coleção, não uma ...mas garrafeiras inteiras só para mim. Oh Universo porquê tanto?! Perco-me no meio da escolha, sabendo que não há mesmo como me perder, em cada escolha encontro o que procurava mesmo sem saber. Bebo uma, duas, três... cambaleio na loucura que é viver embriagado pelo nada querer..agarram-me as mãos que vão passando perto de mim, eu agarro-as também, nunca caminhamos sós, eu sei...
Tropeço nestas ruas apressadas onde correm seres sóbrios: "ohhh pobres estes que não sabem ter já a garrafa tão a jeito no bolso". Consome-me este vício que é sentir a embriaguez total do momento, onde cada movimento é bebido, engolido e transformado em mim. Sou um bêbado de rua, entregue ao som melancólico da noite, ao uivar do nascer do dia, caindo de bêbado nos portais das casas que me esperam na noite tardia. E se não esperavam.... durmo à porta... no meu mundo não cabem paredes. Espero um novo Sol a despertar-me... delicado... e a embriaguez, que ainda não tinha passado, está cá outra vez. Sou um bêbado feliz...