A M.A.D.E magazine esteve à conversa com Maria Duarte Bello, autora do livro "A Tua Marca Pessoal". Aprende a valorizar-te e começa a deixar a tua marca, explorando características únicas.
M.A.D.E magazine: Como é que surge a ideia deste livro?
Maria Duarte Bello: A ideia já a tinha há algum tempo. Faltava uma oportunidade para a concretizar. É também algo em que eu tenho vindo a trabalhar, estas componentes da marca. Eu já trabalhava no personal branding na minha empresa e, por isso, foi assim uma coisa natural. Só me faltava uma janela de oportunidade temporal.
M.A.D.E magazine: Era algo que faltava no mercado, para as pessoas saberem o que é o personal branding e como usá-lo?
Maria Duarte Bello: Eu creio que sim. Os livros que eu fui conhecendo foram todos em idas ao estrangeiro, encontrava-os nas livrarias e também não havia muita opção. Não havia um livro que tivesse um plano de marketing pessoal. Eu pensei “isto é preciso!”. Este livro é uma espécie de guião. Eu também o fiz para mim, para perceber como é que era a parte de ser exequível e considero que a pessoa sozinha tem dificuldade mas se fizer este processo muito a sério, vão haver algumas questões que vão surgir, como “eu sou isto e o que é que eu transmito?”. As pessoas vão acabar por refletir sobre o que querem transmitir e aí é necessário ‘afinar’ a forma e o conteúdo.
M.A.D.E magazine: Este guião acaba por ser um ponto de partida para depois a pessoa testar a sua convivência com os outros e como consegue transmitir aquilo que pretende?
Maria Duarte Bello: Eu considero que a Marca Pessoal é realmente importante porque as pessoas já não são contratadas pelo seu ‘know how’ e sim pelos seus atributos pessoais. As competências profissionais estão lá. Eu dou aulas no Ensino Superior e os alunos saem de lá com as mesmas licenciaturas. Do ponto de vista técnico está lá “licenciado em…”. Para uma competência técnica, a pessoa apenas tem de fazer um curso, um exame e tem uma prova de ter adquirido a competência. As competências pessoais, a que chamamos ‘soft skills’ são muito mais difíceis e eu creio que não são nada ‘soft’. Eu creio que estas é que são as ‘hard skills’. Estas competências pessoais demoram a ser trabalhadas. Eu costumo dar um exemplo meu: eu sou impaciente. Às vezes vejo que não estou tão impaciente, outras vezes dou comigo a sê-lo e sei que é algo que tenho de trabalhar.
M.A.D.E magazine: A Maria fala da importância do carisma… o que é que é exatamente isto do carisma?
Maria Duarte Bello: O carisma é aquilo que é difícil de explicar mas é uma série de atributos/características que os outros reconhecem como algo de diferente, algo impactante, algo que pode ser um modelo a ser seguido.
É importante fazer aqui uma reflexão: “as pessoas carismáticas são todas boas?”. Não! Também há pessoas más mas que são carismáticas. Aqui o que é o carisma é a sua individualidade. Não tem a ver só com o que a pessoa faz mas com o que impacta nos outros.
M.A.D.E magazine: Costuma dizer-se que a primeira impressão é que conta. Como é que se cria esta impressão que realmente se quer transmitir?
Maria Duarte Bello: Tem de se trabalhar. É preciso ter a consciência daquilo que se está a fazer, a transmitir. A autoconsciência é muito importante para se construir qualquer coisa.
M.A.D.E magazine: E falamos aqui só de personalidade e modo como a pessoa se apresenta? Ou falamos também do facto da pessoa poder ter os objetivos mal traçados?
Maria Duarte Bello: Sim, há muita gente à procura do seu objetivo. É algo que aflige e que dificulta na criação da Marca Pessoal mas ela também não se constrói aos 20 anos. É algo que se vai construindo. É difícil escolher porque ao escolhermos alguma coisa estamos a pôr de parte outras coisas, que também podem ser boas. Acho que se deve ir fazendo coisas e ver as oportunidades: hoje faço algo, amanhã faço outra coisa… temos de estar abertos aquilo que vai surgindo.
M.A.D.E magazine: Qual é o feedback que tem recebido das pessoas que têm seguido este guião?
Maria Duarte Bello: O feedback tem sido maravilhoso. Ainda ontem falei com uma pessoa amiga que dizia “Maria trouxe o livro para férias mas o meu marido também quer lê-lo... mas só quando eu acabar!”. Quando fiz o livro foi na ótica da fácil leitura. A pessoa pode abrir o livro no meio, no fim, no princípio… o livro está feito com um determinado caminho mas não tem de ser cumprido pela ordem que lá está.
M.A.D.E magazine: Fala da importância da história do nome…
Maria Duarte Bello: Sim, já vemos as pessoas a dizerem “a pessoa x…” e falarem dela pelo seu próprio nome e não pelo nome da empresa de que vem. As empresas têm muito nome e muitas vezes nem sabemos quem é o CEO mas a marca é conhecida. Noutras empresas é exatamente ao contrário: a pessoa é muito mais conhecida do que própria marca empresarial.
M.A.D.E magazine: É mais importante a pessoa saber ‘vender-se’ através da sua imagem pessoal ou da sua imagem profissional? Ou podemos até falar numa junção?
Maria Duarte Bello: Podemos falar numa junção. Somos só uma pessoa, temos é a vertente pessoal e a vertente profissional.
M.A.D.E magazine: É mais difícil a pessoa falar sobre si mesma do que analisar os outros?
Maria Duarte Bello: A palavra “analisar” é fundamental. Eu considero que sim. Há pessoas que falam de si próprias para se mentalizarem que são daquela maneira mas a consciencialização de si pode ser muito difícil, a pessoa pode ter ali umas quebras. Há pessoas que levam uma vida inteira sem se conhecerem bem, mas é uma questão da pessoa procurar conhecer-se e ir melhorando.
M.A.D.E magazine: E conseguimos desenvolver uma ‘soft skill’ que não nasça connosco?
Maria Duarte Bello: Conseguimos. Depende muito se a pessoa quer mesmo. É como tomar um antibiótico - se a pessoa tomar aquilo como deve ser vai chegar lá. Se fizer 'mais ou menos' provavelmente não chegará lá ou demorará mais tempo.
M.A.D.E magazine: Fala de uma série de máximas. Como é que chegou a estas máximas?
Maria Duarte Bello: Com a experiência, da investigação, da experiência como professora, do coaching… tudo isso me fez ver que há coisas que são essenciais como atributos, competências. Ainda no outro dia houve alguém que me disse que era a primeira vez que via um livro deste género e que falava da cortesia. E eu dizia que a cortesia é algo essencial das relações humanas e que “deitamos por terra”, é uma questão de educação. Quantas vezes as pessoas chegam a algum sítio e não cumprimentam os outros? A pontualidade, por exemplo, é cortesia. Se chegamos atrasados devemos avisar. Estamos a mostrar à pessoa que temos mesmo interesse em estar com ela, estar presente.
M.A.D.E magazine: Numa entrevista de emprego, isso pode marcar a diferença?
Maria Duarte Bello: Marca. Mesmo na própria venda da marca há maneiras mais rudes e maneiras mais suaves. A pessoa está a fazer exatamente o mesmo. A maneira como a pessoa se expõe é essencial. E as pessoas engraçarem umas com as outras é também fundamental. Nós sabemos que a pessoa tem as competências técnicas mas será que se vai dar bem com o grupo, que se vai integrar? Ou até, a pessoa vai demorar duas horas a chegar ao local de trabalho, será que isso vai funcionar? De qualquer forma, o importante é que a pessoa seja ela própria.
M.A.D.E magazine: Num processo de recrutamento, se o candidato for ele próprio e mostrar ter o chamado carisma, isso também pode influenciar e até intimidar os outros candidatos, correto?
Maria Duarte Bello: Sim, até há seleções em grupo, em dinâmica, em que as pessoas podem revelar-se como líder do grupo ou se a pessoa ficar calada não vai revelar nada e até podia ser um bom candidato.
M.A.D.E magazine: As pessoas têm noção do que transmitem com a comunicação não-verbal?
Maria Duarte Bello: Muitas vezes não. Com o interesse, com as leituras, com os estudos a pessoa pode ter esta noção. Há pessoas a quem estas questões passam completamente ao lado. O sorriso, por exemplo, é extraordinário. Basta a pessoa estar a sorrir ou estar mais fechada para marcar uma conversa. Eu tenho sempre o cuidado de ver a linguagem não-verbal no contexto e não levar tão a peito o que está a mostrar, senão estávamos a ver um filme mudo. Temos de ter em conta o que a pessoa diz e todo o contexto. E o próprio silêncio também comunica.