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A culpa não é tua


"Ele é responsável pela sua reação, nós somos responsáveis pela nossa, e a mais ninguém cabe o julgamento do que está certo ou errado."


"Foi enganada. Foi traída. Que ingénua. Como é que não percebeu. Confiou... Também estava-se mesmo a ver que ele não era de confiança. Lá vai ela de cabeça baixa."

Não. A culpa não é tua. Tudo o que fizeste foi dar. Tudo o que fizeste foi confiar. Deste aquilo que é teu, que é gratuito, que é livre, que se dá ao mundo. Deste amor. E como presente deste ainda confiança. A confiança não se dá dependendo do outro. A confiança é uma oferta a nosso próprio risco. Aliás, aí é que está o erro. É sem risco. Porque quem tem risco de errar é o outro. Ele é que pode trair essa confiança. E se nós formos traídos, nada de errado se passa conosco. Nós oferecemos. Aquilo que o outro faz com o nosso presente é da responsabilidade dele. Temos depois a hipótese de perdoar e dar um novo presente, uma segunda chance. Ou perdoar e seguir em frente. De qualquer das maneiras, não nos cabe nenhuma responsabilidade, nenhuma vergonha, nenhuma culpa. Foi o outro que traiu, que desrespeitou, que não retribuiu. Ele fez o que tinha a fazer. Nós fizemos a nossa parte.

Então não, não és tu que deves ser olhado com pena, não és tu que deves sentir culpa, não és tu que deves sentir vergonha e caminhar de cabeça baixa. Não é o outro que sai por cima porque conseguiu enganar. Se alguém pode ser olhado com algum desses sentimentos é quem traiu. Ainda assim, cada um é livre de fazer as suas escolhas. Depois disso cabe-nos a nós escolher como reagir. Mas o presente foi dado por nossa livre vontade, sem saber o que o outro faz com essa dádiva. Ele é responsável pela sua reação, nós somos responsáveis pela nossa, e a mais ninguém cabe o julgamento do que está certo ou errado.

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