"(...) um gato doméstico saudável, que viva apenas dentro de casa, sem acesso a alimentos ou solos contaminados, representa para a grávida um risco muito menor do que, por exemplo, uma salada com ingredientes mal lavados."
São vários os receios que invadem a família que aguarda o nascimento de um novo membro, incluindo o de que os animais de estimação lhe possam ser prejudiciais. De facto, esse risco existe, mas pequenos ajustes na rotina, cuidados médicos simples e regras de higiene básicas podem ser suficientes para o superar.
Uma das principais preocupações, sobretudo dos donos de gatos, é a toxoplasmose, uma doença provocada pelo parasita Toxoplasma gondii. Uma das formas de apresentação deste parasita (quistos tecidulares) encontra-se nos músculos dos mamíferos infetados, surgindo daqui as recomendações para a não ingestão de carne crua ou mal cozinhada (< 60oC) e para a lavagem das mãos, das superfícies e dos instrumentos que contactaram com a mesma. Outra das formas de apresentação (ooquistos) pode ser encontrada nas fezes dos gatos, selvagens ou não. É pela possibilidade de as frutas e os vegetais terem contactado com solos conspurcados com fezes infetadas que se recomenda a eficaz lavagem dos mesmos antes da sua ingestão. Da mesma forma é aconselhado o uso de luvas nas atividades de jardinagem e a ingestão de água apenas se considerada potável.
Os gatos só poderão excretar o parasita se tiverem sido infetados (pelas mesmas vias que os humanos) e sabe-se que a maioria deles excretará o parasita nas fezes durante apenas uma semana em toda a sua vida. Além disso, para que os ooquistos presentes nas fezes sejam uma ameaça, têm que sofrer o processo de esporulação, o que implica a sua permanência pelo menos 24h no ambiente exterior. Desta forma, a boa e frequente higiene da caixa de areia – tarefa que deverá ser realizada por pessoas não gestantes – reduz significativamente o risco de contaminação.
Reunindo todos estes dados conclui-se que um gato doméstico saudável, que viva apenas dentro de casa, sem acesso a alimentos ou solos contaminados, representa para a grávida um risco muito menor do que, por exemplo, uma salada com ingredientes mal lavados.
Em relação aos donos de pequenos mamíferos, sobretudo de ratos e hamsters, o principal receio é relativo ao vírus da coriomeningite linfocítica, transmitido através do sangue, da saliva, da urina e das fezes daqueles animais que estejam infetados (o que não implica apresentarem sinais de doença). Assim sendo, a manipulação e a higiene destes animais e dos seus objetos (brinquedos, gaiolas, comedouros, etc.) deverão ser evitados pelas grávidas e por pessoas em estado de imunossupressão, pois é a estes grupos de risco que a infeção poderá trazer consequências mais graves. É também importante afastar as grávidas da manipulação dos répteis e dos anfíbios de estimação, pelo risco de transmissão da bactéria Salmonella, presente no trato gastrointestinal daqueles animais.
No que respeita aos cães, são sobretudo as questões comportamentais que preocupam os donos. Neste aspeto, o investimento numa boa escola de treino canino pode ser muito benéfico para a relação do cão com a grávida e com o bebé, não só na sua chegada a casa, mas também ao longo do seu crescimento.
Independentemente da sua espécie, a regra de ouro será manter os animais de estimação em bom estado de saúde. As visitas ao Médico Veterinário, a correta alimentação e o cumprimento dos planos de vacinação e de desparasitações (ajustáveis a esta fase) são exemplos de cuidados básicos, que, obviamente, não devem ser exclusivos desta etapa mais delicada, mas que podem fazer a diferença no bem-estar dos animais, na segurança dos donos e na saúde de ambos.
Lymphocytic choriomeningitis (LCM). Atlanta (GA): Centers for Disease Control and Prevention; 2014. Disponível em: https://www.cdc.gov/vhf/lcm/
Oliveira A.R.S. (2013). Avaliação do conhecimento dos proprietários de animais sobre a toxoplasmose. (Tese de Mestrado). Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Portugal.