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O problema ambiental



(...) vamos aniquilar-nos a nós mesmos? Pela força de algo que criámos? (...)


StartFragmentQuando era pequena os meus pais ofereceram-me um livro sobre ecologia para jovens. Ainda me lembro bem de quase todos os conselhos práticos para implementar a ecologia nas nossas vidas, como trocar as lâmpadas amarelas para brancas, fechar a torneira enquanto se lava os dentes, apagar as luzes quando se sai de uma sala. Lembro-me também dos dados e imagens preocupantes sobre derretimento dos polos, destruição da camada de ozono e espécies em via de extinção. Foi a partir desse livro que todas as minhas composições de escola com tema livre se tornaram acerca do clima e do ambiente. Foi desde pequena que me interessei e me preocupei com este assunto.


Naquela altura ainda se começava a falar nestas coisas. Tinha-se descoberto que o seguimento da história da nossa revolução industrial era definitivamente preocupante e teria grandes impactos a longo prazo. Começou a falar-se em painéis solares, energias renováveis, diminuição das emissões de carbono nos nossos carros e medidas para todos nós enquanto cidadãos pormos em prática. A reciclagem teve campanhas televisivas insistentes (quem se lembra do macaco Jervásio a separar lixo?), os ecopontos apareceram em todos os bairros e os caixotes com três compartimentos surgiram nos mercados.


Hoje, sabemos que tudo isto são grãos de areia na praia dos problemas ambientais. Sabemos, através de dados de dezenas de satélites, de estudos científicos, de documentários alarmantes, de cimeiras políticas, que o cenário é negro e de intervenção drástica e urgente. E ainda assim, apesar da confirmação de um problema que, como última circunstância, terá a destruição da humanidade, continuamos a esquecer-nos, continuamos a não agir e, mais grave, continuamos nós, e políticos informados com deveres maiores, a negar a veracidade dos factos.


O que está a acontecer? Os combustíveis fósseis continuam a ser a principal fonte de energia. O petróleo continua a ser explorado e fala-se agora em acordos de exploração de poços em Portugal, numa altura em que as energias renováveis deveriam ser a única aposta de futuro, num país com todas as condições para o fazer. A produção de gado para consumo humano a ritmo fabril destroi áreas imensas de floresta para plantação de alimento para gado que ocupa muito mais área do que as plantações para consumo humano. A própria indústria da carne é de uma pegada ecológica gigantesca, se não das mais preocupantes neste momento. A China tornou-se a fábrica do mundo, produzindo a ritmo alucinante, sugeitando os seus habitantes a níveis tóxicos de poluição e obrigando ao uso de máscaras na rua! O resto do mundo importa estes produtos vindos literalmente do outro lado do mundo, recorrendo a transportes que mais uma vez representam uma pegada ecológica enorme e que apesar disso representa preços mais baixos para o consumidor. É mais barato mandar vir uma peça de roupa da China diretamente para a minha porta do que comprar a um produtor local. Plantações infindáveis de Palma, para produzir este óleo vegetal, destrói florestas e queima áreas infindáveis para baixar o custo de produto de mega empresas por todos nós conhecidas. Progresso, crescimento, economia e consumo continuam a ser as palavras de ordem dos nossos dias.


Os resultados? Metros cúbicos inimagináveis de gelo derretido nos polos. Alterações de correntes oceânicas. Costas de países a diminuir, ilhas a desaparecer. Tempestades inusuais e devastadoras em locais estranhos. Aumentos de temperaturas que causam diminuições noutros lados e que têm consequências. Não estamos a falar de fazer mais calor no inverno. Não sejamos ingénuos. Estamos a falar do ténue equilibrio do planeta em que tudo está ligado, tudo tem consequências. Já conseguimos extinguir espécies animais, desequilibrar ecossistemas inteiros, exterminar os preciosos recifes de coral, pontos chaves dos ecossistemas marinhos. Guerras pela água já começaram devido a secas em certos países. Os filmes e documentários não são ficção. São o futuro próximo, não a longo prazo como se pensava.


A verdade? A verdade é que os governantes deste mundo são guiados por noções de poder e riqueza. Por ambição e ganância económica. Não por valores morais e altruístas. As pessoas de boas intenções não são políticas, elas são ciêntistas, são gurus, são professores. Quem busca a política busca a riqueza, busca o poder, e mesmo quem entra no circo com as intenções certas acaba por ser sugado ou expulso pelo sistema. E os consumidores esses são arrastados pela máquina da sociedade, levados a ações impensadas, a hábitos irrefletidos, a decisões não informadas. Todos têm carro, todos compram na loja mais barata a roupa vinda de fora, compram a fruta que vem de espanha, comem carne todos os dias, consomem os bens de primeira necessidade, os de segunda, os de terceira e os sem necessidade nenhuma.


Pois somos nós. Nós os consumidores, os que votamos, os que compomos a maioria da massa de gente que habita este mundo, que moldamos as decisões políticas. Não por votar nos mesmos todos os anos. Mas pelo nosso modo de vida em massa. A minha ação não tem poder sozinha mas tem poder em massa. E os políticos moldam-se à vontade das massas. O problema é que a massa está moldada à vontade dos políticos. Temos de sair da roda. Temos de fazer escolhas conscientes e de mudar padrões. A nossa maior força? Aquelas moedas na nossa carteira. É essa a nossa voz. Quando vamos ao supermercado. Quando compramos seja o que for. Em todas as opções que fazemos. Temos o poder de boicotar ou empoderar qualquer coisa. Os políticos seguirão as massas pois seguirão onde estiver o dinheiro e o voto. Se o povo quiser ecologia, se o povo não quiser pesticidas, não quiser combustíveis fósseis, não quiser carne, não quiser óleo de palma, não quiser importações baratas, não quiser poluição, não quiser consumismo, a política seguirá. Se o povo quiser paineis solares, energia eólica, produtos biológicos e locais, produtores artesanais, matérias primas nacionais, e fizer essa escolha através da sua carteira, a economia começa a mudar. O valor de algo está sempre ligado à lei da oferta e da procura. Quanto mais procura mais oferta, e quanto mais oferta mais barato. O que hoje é barato e errado pode tornar-se caro, revertendo o valor ao que é certo. Procurando o que é certo o valor acertará com a procura e tornar-se-á acessível.


Não podemos mais acreditar em medidas de lavagem cerebral, em manobras de distração, em cimeiras que parecem acontecer apenas como teatro para sossegar ativistas e ganhar aplausos do povo. Temos de exigir medidas drásticas, medidas reais, medidas concretas. Prometer diminuir emissões de carbono em percentagens baixas por umas quantas corporações não é o suficiente. Não é disso que precisamos. Precisamos de uma mudança total de paradigma. Não estamos a falar de um problema de escola, estamos a falar da nossa qualidade de vida e sobrevivência. Estamos a falar do planeta terra como o conhecemos, com glaciares, com praias, com baleias. Como nos sentiremos se as gerações futuras viverem num planeta onde isso não existe? E se essas próprias gerações estiverem em risco?


É urgente acordar, dar atenção a este problema, ser informado, ser consciente, ser ativista sim. Não é necessário amarrar-se a uma árvore, começe por dar atenção a para onde vai o seu dinheiro. Informe-se e informe os outros, eduque as crianças, mude o seu voto político, o seu estilo de vida. Olhe para si do lado de fora e aperceba-se daquilo que faz parte. Somos o único ser vivo que tem consciência de si próprio e de tudo isto desta maneira. Em todo o sistema solar. Somos magníficos, somos o universo a ter consciência de si mesmo! E vamos aniquilar-nos a nós mesmos? Pela força de algo que criámos? Somos assim tão estúpidos?


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