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Simplesmente "Não!" – Uma palavra pequena. Um significado assustador.


Imagem fornecida pela autora, Maria Veiga

(...) Ter a coragem de dizer que não sublinha muito a nossa personalidade (...).


Existe uma palavra, que assusta. Que sufoca. Que gera angústia, por diversas vezes ser interpretada de forma distorcida. Por ser silenciada com receio do seu reflexo. Por ser considerada ‘antipática’, ‘distante’, ‘pouco empática’ ou ‘muito assertiva’. – A pequena (grande), palavra Não.


Falaremos sobre esta questão, de uma forma geral e sobre acontecimentos e eventuais situações de rotina e, não naturalmente de situações maiores, onde um Não ou um Sim, muitas vezes serão decisivos. Não será nessa perspectiva que abordaremos este tema. Falamos de uma atitude constante, prolongada no tempo, que faz parte da conduta de determinada pessoa: Não conseguir dizer ‘Não’.


Deste modo, e tendo em conta situações do dia-a-dia e comuns, por que razão, para algumas pessoas, existe tanta dificuldade em dizer a palavra ‘Não’? O seu significado muitas vezes é mal interpretado e muitas vezes também, desde logo, mal compreendido, por quem não ousa dizê-la… Tem uma conotação enorme e é um caminho que tende a não ser gerido nem controlado por quem o segue. Muitas pessoas associam de forma muito literal, o sim a ‘eu preocupo-me contigo ou eu gosto de ti’ e o não a ‘eu não me preocupo e não gosto de ti’. Existe de facto, uma extrema dificuldade em separar factores externos, da pessoa. O sim ou o não são respostas a algo externo, objectal e momentâneo e, essa questão nem sempre é compreendida. – “O facto de te dizer que não, não significa que não gosto de ti!”


Existem muitas pessoas que sentem necessidade em sentir-se gostadas constantemente. Desse modo, dizer que não iria contrariar essa perspectiva. Deveria ser compreensível que não será possível que todas as pessoas gostem de nós, que simpatizem connosco, que queiram a nossa companhia. Assim como não seria possível gostarmos de todas as pessoas, de empatizarmos com todas do mesmo modo, de considerarmos que todas fazem parte do nosso círculo mais íntimo… Cada pessoa é Única. Por esse motivo o mundo não faria muito sentido se não tivéssemos um filtro e uma capacidade de seleccionar quem queremos perto de nós, quem consideramos que nos faz bem e que é essencial à nossa vida.


Mas por que motivo existem pessoas que agem desta forma? Certamente que tendem a existir variados factores, entre os quais uma insegurança, uma baixa auto-estima, o medo da rejeição, da má interpretação e de uma profunda e, por vezes inconsciente, incapacidade para gerir esta situação. Uma incapacidade de resistir à frustração.


Será também por esse motivo que tantas vezes se reforça o facto de, desde muito cedo, os Pais não terem receio de dizer ‘não’ às crianças. Ao contrário do que tantas vezes se pensa, dizer ‘não’, é um presente extraordinário e um grande alicerce. Todos vamos aprendendo que a vida e o mundo não são apenas preenchidos por ‘sins’. O ‘não’ irá desde cedo, fazer parte da vida, nos mais variados contextos. E aprender a gerir essa frustração, faz-nos crescer. Por vezes, poderá doer? Sim. Pode doer. Mas crescer não é fácil! Crescer dói!


Por outro lado, quando se quer dizer que não e se diz sim, em primeiro lugar vai existir uma ambivalência enorme, uma luta interna que tenderá a não ser salutar. Vai dar origem a uma incapacidade de respeito, pelo próprio. Um menosprezo pela sua vontade, pelo que sente e pensa. Ter a coragem de dizer que não sublinha muito a nossa personalidade. Transmitir não, quando verdadeiramente o sentimos, é assumirmo-nos. É sermos verdadeiros e transparentes. Antes de mais, connosco próprios.


Alguém que diz sim, em todas as ocasiões, tende a olhar de soslaio a momentos felizes. E a felicidade passa pela capacidade de nos conhecermos, nos ouvirmos e nos aceitarmos… e, definitivamente, a nossa vida não poderá estar sempre repleta de sins.

Já imaginou se o ‘não’, não existisse?

Você nunca seria Único e especial. Seria igual a todos. Sem diferenciação. Sem conteúdo próprio. Sem opção. Não teria essa opção de escolha.

E ter o privilégio de opção de escolha será, provavelmente, uma das suas maiores riquezas.


Fonte: http://www.marisapsicologa.com.br/perder-o-medo-de-falar-nao.html


Maria Veiga | Psicóloga Clínica

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