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Dar sem receber


Existirá o puro altruísmo? O que pensamos fazer para o bem do outro será realmente desprovido de egocentrismo? Ou será impossível encontrar o ato exclusivamente altruísta? Pois afinal, o que fazemos, mesmo em prol do outro ou do bem maior, faz-nos sentir bem. Fazer o bem traz uma aura de boa ação, de benefício karmico de que estamos conscientes, e é difícil encontrar algo que não seja assim.


Mas antes desse quebra cabeças de última instância, há uma dificuldade bem mais comum. Dar sem receber. À primeira vista parece fácil. Temo-nos como boas pessoas, disseram-nos em crianças que oferecer é uma maior alegria que receber, e ensinaram-nos a humildade de não cobrar pelo que fazemos ou damos. Mas será assim tão fácil? O verdadeiro altruísmo não se resume a prendas de natal, a ajudar velhinhos a atravessar a estrada, ou pequenos atos que nos fazem sentir bem a curto prazo.


O que dizer de amor não correspondido? Quantos de nós não esperam realmente retribuição igual na maneira como tratam os outros? O ego é muito dificil de silenciar e a maioria das pessoas vê as coisas na perspetiva "olho por olho dente por dente". Se eu fiz por ele, ele terá de fazer por mim. Se eu ofereci espero um dia ter outra oferta de volta. Se eu fiz, eu espero pelo menos o agradecimento. E se num mundo ideal essa fosse a resposta ideal, essa é uma premissa que pode conter riscos. Estamos a por na mão do outro uma expectativa. E criar uma expectativa é abrir uma porta à desilusão. A única coisa que controlamos é a nossa vontade e a nossa intenção: de dar, de fazer, de oferecer, de tratar, de ser amigo, de amar... mas esperar que isso retorne para nós na mesma moeda já não é certo. O segredo é imaginar que nunca terá retorno, ou não terá o retorno esperado obrigatóriamente, e então considerar se queremos continuar a oferecer. Espiritualmente falando, essa devia ser a premissa. Mundanamente falando, é um desafio complicadíssimo calar o ego a tal ponto de não esperar esse mínimo de algo ou de alguém e continuar a agir altruisticamente.


Trabalhemos o possível e sejamos conscientes do nosso ego e do nosso altruísmo. Sem expectativa, é mais altruísta e mais verdadeiro, e também mais dificil de aplicar. Tendo em conta um desejo de reciprocidade, é o mas comum, mas também o mais arriscado, pois amizade, amor, e boas ações, nem sempre voltam em retribuição mundana mas, com certeza, voltará em crescimento pessoal e bom karma!


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