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O pensamento indomado


Ajudai-me ó monge budista, mestre do zen, guru da meditação. Ensinai-me ó gato estendido ao sol, ó homem desprevenido na pergunta "o que estás a pensar?". Pois como é difícil não pensar em nada!


Esvaziar a cabeça, ver o pensamento passar, não tomar nota do som, da imagem. A mente assemelha-se-me a uma criança pequena com excesso de açúcar no sangue ou um cachorro excitado de cinco meses. Não pára, não quer parar, e salta, e rodopia, e chama.

Sempre alerta, como lhe ensinaram a ser, a mente toma conta de tudo, para nos manter em segurança. Mas quando já não há insegurança por onde temer ela entretém-se a planear a nossa vida, a repassar momentos, a cantar músicas incomodativas.


Quão difícil é calar esta voz interior que em tentativa de meditação se observa até a si mesma. "Já não estou a pensar em nada", "tenho de ignorar este som", "vou imaginar um ponto", "agora quase que não pensei por dois segundos". E assim segue, irrequieta, falando consigo própria.




Além disso, no oposto, temos a segunda dificuldade: pensar controladamente. Em algo concreto. Elaborar uma ideia. Voltamos à analogia da criança pequena. Ela senta-se para fazer um desenho, experimenta dois lápis de cor diferentes e depois levanta-se para ir fazer outra coisa porque já está aborrecida. Quão difícil é pôr a mente a trabalhar a nosso favor. Tudo o que a mente quer é correr como um cavalo selvagem pelos prados ao vento. Ao sabor dos pensamentos mais inúteis e absurdos, do divagar sem nexo, das memórias antigas, dos sonhos futuristas, das músicas aleatórias. Servindo assim o único propósito de se entreter a si mesma, deixando-nos sem o descanso da auto-contemplação silenciosa ou da vida produtiva e organizada.


E para piorar vivemos rodeados de material entorpecedor da mente. E como ela adora! Televisões, computadores, telemóveis. Já para não falar quando decide entregar-se a pensamentos derrotistas e depressões e ser feliz na sua miséria.

Assim é a mente. Poderosa mestre de nós mesmos quando deveria ser nossa serva. Venha a mim o livro de meditação, e livrai-nos da procrastinação. Amém


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