Das maiores conquistas da maturidade e crescimento de uma pessoa é a aprendizagem de pensar e dar crédito às próprias ideias sem influência de outros.
Enquanto crescemos e formamos a nossa personalidade podemos navegar em várias direções ao sabor do vento e absorver vários conceitos, influenciados por todo o tipo de informação, de tantas fontes e sobre tantos assuntos. Mas à medida que amadurecemos todas essas ideias vamos formando não só a nossa personalidade, como um conjunto de valores e verdades em que acreditamos. Esse mar em que andávamos à deriva vai encolhendo, até se transformar numa espécie de funil. A água vai escorrendo e o nosso barquinho vai ficando cada vez com menos espaço para andar ao sabor do vento, até que acaba por ficar num lugar mais estreito e definido.
É lógico que, em qualquer tipo de assunto, sempre tomaremos em consideração novas informações, sempre haverá espaço para mudar, e sempre prezaremos a opinião dos nossos amigos e familiares. Mas isto num sentido em que ou nos faz realmente acreditar que estávamos errados, e aí uma roda gigante se move e somos capazes de mudar uma crença ou um valor, ou então as opiniões e informações apenas servem de complemento, e vêm apenas afirmar valores nossos ou acrescentar algum ponto de vista de que ainda não nos tínhamos lembrado.
O brainstorming sempre será útil a novas perspectivas e sempre se disse que duas cabeças pensam melhor que uma, mas aqui falo da valiosa formação do nosso âmago, da nossa maneira de pensar que tanto nos custou anos de dúvidas adolescentes a formar.Pensar pela própria cabeça é tão difícil como escapar à própria realidade. Quando finalmente percebemos que os outros podem opinar e aconselhar, mas que nós temos os nossos próprios valores e aquilo em que acreditamos para nos guiar, ganhamos uma nova confiança. E agir de acordo com a nossa convicção dá-nos um prazer diferente daquele em que agíamos amparados pelos muros de crenças dos outros.
A realidade que percepcionamos durante anos. A realidade do "senso comum", como por exemplo passar-se de achar que a terra era plana a perceber-se que era redonda. Conceitos que nos são passados pela sociedade, desde os mais simples aos mais complexos, que vamos desconstruindo e mudando ou mantendo. A realidade também em que vivemos, da nossa cultura local, do bairro em que nascemos, dos amigos que temos. Aprendemos a achar que isto é "normal" e que aquilo é errado ou certo. Esta realidade forma-nos a personalidade de maneira quase irreversível, jogando entre aquilo que vemos que queremos ser e o que não queremos. Mas a realidade talvez mais difícil de finalmente percecionar na nossa cabeça é aquilo que aprendemos com os nossos pais. Não só o que aprendemos mas aquilo em que os vimos acreditar durante todo o nosso crescimento, e que por osmose nos passou a sua maneira de ser. A criança em nós acredita até muito tarde que os pais são as pessoas mais sensatas e esclarecidas do mundo, pois foram eles que sempre nos guiaram, nos ajudaram, nos distinguiram o mau do bom. Foram eles que primeiro admiramos como tendo todas as respostas a todas as ideias. E demoramos a perceber que apesar de serem os nossos amados pais, são apenas dois adultos neste mundo, com uma opinião própria como outros pais que não os nossos.
No fundo buscamos uma opinião, uma informação, alguém que nos indique uma instrução neste equipamento chamado vida. No entanto esquecemo-nos que todos estão tão perdidos como nós. Então, se é para fazer valer alguma ideia, que seja a nossa, pois é a nossa ideia própria a que mais se vai adaptar à nossa vida.