O desperdício caracteriza o nosso quotidiano. Está aparentemente dissimulado em vários momentos do nosso dia a dia. Podemos falar de desperdício de água, de alimentos, de electricidade, de pensamentos, de tempo, de dinheiro ou seja de recursos e de energia.
E no final tudo se resume a energia. E saber conservar energia e distribui-la sob qualquer forma parece ser uma arte que vai desaparecendo. Aliás a nossa sociedade global parece apoiar objectos de pouca qualidade e duração, parece viver bem com sistemas de distribuição de água e electricidade com perdas significativas, parece contente por apenas uma pequena parte das pessoas contribuir de facto para o bem comum, parece indiferente de que menos de 1% da população tem mais de 99% da riqueza monetária e parece aceitar levianamente a comida produzida ser bem mais que suficiente para alimentar todo o mundo e continuar a haver pessoas que passam fome.
Existiu uma campanha de educação ambiental que era a campanha dos 3”Rs”. Infelizmente o único “R” que se manteve na moda foi o único que foi possível transformar num negócio. Falo da campanha para Reduzir, Reutilizar e Reciclar. E esta ordem tem a sua lógica. Se reduzirmos o que consumirmos, se reutilizarmos ao máximo o que temos em casa e se no final reciclarmos o que realmente não nos é útil estamos no bom caminho. Ou seja, valem muito mais como um todo. Mas parece que estamos condenados a só mudar os hábitos quando estamos mesmo em situações extremas e a acreditar em novas ideias quando nos são impostas e a deixar de pensar cada vez menos pela nossa cabeça.
Mas não vamos ficar de braços cruzados e, por isso, vamos tentar introduzir os 3”Rs” na nossa vida e ainda acrescentar mais 2 já que o tempo em que vivemos é de mudança e assim aproveitamos a onda. Por isso aqui vão os “5 Érres”:
Quando atiramos um pedaço de plástico para o chão seria bom ter consciência da energia que alguém vai gastar para pô-lo no lixo. A energia que vai ser necessário para levá-lo para a central de reciclagem (se for), a energia que vai ser necessário para reutilizar esse plástico ou a energia (e/ou tempo)que vai ser preciso para degradar esse pequeno pedaço de plástico numa lixeira. E melhor ainda é ter a consciência da energia que foi necessária para produzir esse plástico. E ter essa consciência quando temos a opção de pôr esse pedaço de plástico na nossa vida. Ou seja todos temos a opção de RECUSAR e optar por incluir o mínimo possível de “plásticos” na nossa vida. E quando os fabricantes de plástico perceberem que a maioria das pessoas recusa-se a consumir algo pois contém plástico vão mudar de estratégia. Quando falamos em plásticos podemos também falar de objectos com uma um tempo de degradação elevado e/ou com componentes de difícil eliminação/transformação. E alguns têm de entrar ou simplesmente entram na nossa vida mas podemos sem dúvida recusar a maioria e REDUZIR a quantidade que entra. E os “plásticos” que já estão na nossa vida podem ser vistos de maneira diferente. Podemos sentir a responsabilidade de lhes dar mais do que um uso, mais do que o uso para que foram criados. Se eu tenho um balde vazio da tinta que comprei para pintar a casa posso vê-lo como um recipiente útil para armazenamento. Estamos assim a REUTILIZAR. E podemos usar a mesma lógica para a água. A água com que lavamos as mãos, o corpo, os dentes e a água com que cozemos os vegetais e a massa pode cumprir ainda mais uma função antes de a descartarmos. Uma parte pode servir para o autoclismo (se ainda não convertemos a nossa sanita numa casa de banho seca) e outra parte pode servir para regar o jardim. Se a isto juntarmos o hábito de compostagem e de recolher água da chuva estamos a fechar muitos ciclos dentro da nossa casa! Estamos verdadeiramente a RECICLAR recursos!
Quando começamos a cuidar dos recursos que temos à nossa volta eles transformam-se, multiplicam-se, energizam-se, energizam-nos e caminhamos para a verdadeira abundância. E ao REPARTIR essa abundância fechamos um ciclo maior que nos trás à essência da humanidade. Essa essência de partilha, de cuidado pelo próximo e de preocupação genuína sem andar preocupado.
Mas a realidade é que vivemos em tempos de extremos. Queremos tudo para agora mas se pudéssemos não fazíamos nada. Parece que estamos treinados para não pensar na verdadeira consequência dos nossos actos, para não ver o fim da linha da consequência das nossas acções. Ou parece que estamos destreinados para perceber que essas linhas são na realidade círculos e que tudo o que fazemos volta para nós de uma maneira ou outra. A abundância de bens materiais junto com o incitamento ao consumo mantém-nos longe da percepção do planeta como um organismo só, e que tudo afecta todos. Pouco a pouco vamos limpando os olhos e vendo com claridade a beleza que nos rodeia quando estamos em harmonia com os ciclos naturais.
“There is no such thing as waste, only stuff in the wrong place” - “Não existe desperdício, apenas coisas fora do lugar” - Charlie McGee