Se as plantas vêm com manual de instruções ou pelo menos com uma mini etiqueta, onde a informação sobre a quantidade de água e de Sol estão lá explicitas, o mesmo não se passa com pessoas. As plantas sabem o que querem e precisam, quando querem e quando não querem, e mesmo estas mudam ligeiramente.
No Verão precisam de mais água do que de Inverno, algumas não gostam de ficar à chuva mesmo gostando de água, e mesmo algumas plantas de exterior serão mais felizes a passar umas férias de Natal dentro de casa do que sem um tecto húmido e frio. Se até as plantas mudam ligeiramente os seus gostos, adaptando-se ao exterior, imaginem os humanos, que não só respondem ao exterior como tentam controlar e manipular o exterior mediante aquilo que querem internamente num preciso momento. E a cada momento querem uma coisa diferente.
Se agora querem muita terra, depois querem pouca, se um dia querem Sol noutro querem chuva, e já agora um arco-irisinho só naquela, porque sim, porque se lembrou que aquele dia sem arco-íris não teria graça, e maldito seja o céu que não entregar um bem lindo e colorido, que o satisfaça já, aqui e agora. Mas a chuva pode ganhar terreno, o Sol desaparece e o dia fica estragado, porque naquele momento já se quer o quente da estrela e não o fresco da água que escorre do mesmo céu onde o arco-íris estava. Ora, o desgraçado do cuidador desta plantinha chamada homem, não tem o trabalho facilitado, tentando regar a florzinha para que esta não murche, cheio de boas intenções, com um regador lindo na mão, feito de peças artesanais e cuidadas com amor, usando uma água límpida recolhida na fonte mais pura que encontrou mas…. quem lhe disse que era dia de rega? Lá fica o desgraçado de regador na mão. A planta que tem pernas não se amaina e não se deixa regar, o infeliz corre atrás, tentando que pelo meio do esforço da correria da bem intencionada perseguição a água não se gaste toda no chão, que pelo menos uma gota toque naquela terra que ele acha seca e que quer regar com o amor do seu cuidado.
A planta sem receber a água lembra-se pouco depois que afinal até precisa dela para viver feliz, começa a sentir as raízes um pouco mais rijas do que o habitual, perdendo um pouco do brilho e da vitalidade, e pensa que talvez aquela água que não aceitou até não lhe fizesse mal, ou mesmo bem. E olha em volta, sabe que havia um regador com água e um desgraçado que o tinha na mão. E tem, mas sem água, não teve força para ir à fonte outra vez e o regador está vazio. A planta fica triste, por momentos sente que o céu a abandonou, que a chuva chega a todos menos a si, e naquele momento não quer o Sol, que tanto brilha lá em cima, mas que não trás a água que agora precisa. Aquele que agarra o regador sente o que está em falta, percebe que a água é fundamental e tenta outra vez, já que a fonte não se esgota, e, por enquanto, a sua paciência para cuidar da planta também não. Enche o regador com quase a mesma boa intenção que fez antes. E de repente chove…. A planta quer Sol… e lá fica o desgraçado de regador na mão.