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Reflexão sobre a Vida


A dificuldade que parece ser nesta sociedade agir ou fazer as coisas no momento certo. Afinal "é preciso" planear atempadamente, supor que a linha da acção terá aquele movimento e incluir nessa linha a resposta certa que se deve dar. Acabamos com isto por nos dessintonizar do momento presente, daquilo que está de facto a acontecer e afastamo-nos de uma mais real capacidade de fazer o adequado. Esta pressa ou antecipação vem da falta de confiança no universo, vem da própria noção de falta em si, ao faltar algo há sempre razão para se fazer outro algo que colmate essa mesma falta, mas a falta era real em primeira instância? A necessidade de querer mudar as coisas vem de uma insatisfação para com o como as coisas estão e são, e se por um lado a insatisfação leva a uma tentativa interna de estar satisfeito, há que se entender que haverá sempre aparentes razões que podemos escolher para nos darmos como insatisfeitos. Isto porque a vida dificilmente (e ainda bem) nos vai presentear com tudo aquilo que achamos que nos falta para que a sensação de insatisfação desapareça. Porque é que para uns ter pouco chega e porque é que para outros ter tanto não parece chegar? Então nunca é diretamente do que se tem que vem a experiência de uma realidade preenchida e satisfeita em si e por si, mas da relação interna com o que se tem e acima de tudo com o que se acha que não se tem. Da sensação da falta vem o desconforto consequente de querer tapar o buraco, mas este buraco vem do hábito anterior de que falta algo. E para a mente condicionada pela sociedade e pelos valores do consumismo, da acumulação, do status, do provar que se é alguém ou que se possui "o suficiente" (e já nos esquecemos há muito o que é este suficiente) vão estar sempre a faltar coisas. Conseguimos relembrar-nos do que precisamos realmente? O que nos falta realmente e que não tenha sido uma ideia imposta?

Ao abrir mão destas sensações de falta e ao entregarmo-nos a uma confiança real, que provavelmente não vem de repente, mas num crescendo, porque se põe à prova e se consegue ir vendo o resultado, conseguimos estar presentes no presente, conseguimos ir colhendo e comendo dos frutos que nascem de cada estação, sem a ideia de que comer morangos a meio da geada da Inverno seria mais adequado. Isto implica o abrir mão dos quereres específicos e criados pela mente e seus desejos, abrir mão do sonho para viver na realidade. Isto pode ser duro, acima de tudo por nos terem ensinado que é preciso controlar as coisas para que elas corram da forma que planeamos, e esta crença está lá tão enraízadinha que até parece nossa. É o largar do que queremos que seja para um viver no que é. E se o que é não corresponde ao plano que tínhamos...faço a questão: é melhor continuar a tentar corrigir as faltas e a agir numa tentativa constante de mudar o momento presente e futuro ou viver/aprender/experienciar a única "coisa" que de facto existe? Que é este momento.


Saberá a mente e o seu plano o que de facto é melhor ou pior para nós? Saberá o sonho e a imaginação mais do que a realidade? Saberá a sensação de falta mais que a permissão para este momento ser como é? Onde está a real sabedoria? Na aceitação ou na insatisfação? No agora ou no depois? Na mente individual ou na indivisível totalidade? No sonho ou na realidade?


Apenas para refletir...

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