O viajante adora aventurar-se e saborear terras diferentes. Gosta de andar muitas vezes sem rumo, de correr riscos e de colocar-se à prova constantemente. Não o faz de maneira propositada! Apenas compreende que o medo e a coragem andam sempre de mãos dadas e que às vezes quem muito procura pouco acha.
Dizem por aí que o viajante foge sempre dos problemas e que não cria raízes em lado algum. Mas ele sabe que se tiver problemas também eles viajarão consigo. Entende que os problemas e os dilemas vivem dentro dele e não no sítio onde se encontra.
O viajante cria raízes no coração das pessoas e encara o mundo inteiro como sua casa sem tabus e sem fronteiras. Pouco percebe de regras, leis, conceitos ou “ismos”. O que percebe é que o mundo com todas as suas divergências e formas é a sua família no planeta terra.
O viajante vive por vezes de maneira intensa. Deixa roupa, livros, lágrimas e sorrisos espalhados em cada canto do mundo. Não tem apego, receio nem pena de se despedir de alguém, de ficar sem tecto, trabalho ou com fome. É consciente de que a vida é mutável e impermanente, mas também professora e abundante. É incessantemente grato ao universo e vive o presente porque sabe que o melhor está sempre para vir.
O viajante é capaz de tanta coisa! Às vezes lava casas de banho, às vezes cuida de crianças, às vezes é professor, jardineiro e outras copeiro. Reconhece que estes “às vezes” são apenas papéis temporários que retratam a incansável metamorfose da persona, do existir. Então recicla e cria outros, mas sabe que internamente o ser é estável e imutável.
O viajante pode viajar internamente, de carrinha, de bicicleta, de mochila às costas, sozinho ou acompanhado...a viagem é a sua peregrinação até o lugar sagrado que é o ser.
Nota: Esta é apenas uma carta de um viajante. Existem imensos viajantes! Cada um com suas aspirações e Dharma. Ah... E já agora...Não importa se não é viajante...Cada um com o seu Dharma!