O melanoma também aparece nas unhas
O Cancro cutâneo mais temido, o melanoma, representa cerca de 5% do total, sendo 95% constituídos pelos restantes cancros cutâneos não melanoma (CCNM), nomeadamente carcinomas basocelular (cerca de 75%) e espinocelular (cerca de 25%). O melanoma é uma das neoplasias malignas mais frequentes em adultos jovens e a sua incidência tem vindo a aumentar. Estima-se uma morte por hora por melanoma nos EUA.
O melanoma do aparelho ungueal é uma variante rara, representando cerca de 1-2% dos casos de melanoma na raça branca e 15-35% em grupos étnicos de pele escura. Apesar da sua raridade, quando ocorre pode associar-se a um pior prognóstico do que em outras
localizações, quer pela dificuldade no estabelecimento de um diagnóstico precoce. A lesão é geralmente assintomática e muito pacientes atribuem a alteração da cor e/ou da forma da unha a um traumatismo prévio, e por isso demoram por vezes anos a procurar ajuda médica.
A incidência das lesões é maior no dedo grande do pé ou dedo polegar, o que se deve ao maior tamanho da matriz ungueal (“raiz” onde se forma a unha). A principal pista de diagnóstico é uma pigmentação longitudinal da unha (melanoniquia). A melanoniquia não é muito comum em indivíduos de pele clara, mas quando aparece o seu diagnóstico diferencial é amplo, incluindo onicomicose, hematoma subungueal e nevos (sinais na matriz ungueal). No entanto uma estria acastanhada na unha de um adulto de pele clara deve ser
sempre considerada suspeita, para não deixar escapar um diagnóstico tão importante como o melanoma.
O diagnóstico clínico deve ser complementado pela dermatoscopia do prato ungueal e pregas ungueais adjacentes. A presença de uma pigmentação castanha de largura superior a 5 mm, com estrias longitudinais irregulares na sua espessura, espaçamento, cor ou paralelismo é suspeita de melanoma. Um sinal importante e que aumenta a suspeição para o diagnóstico de melanoma é a
pigmentação nas pregas ungueais adjacentes (Sinal de Hutchinson). No entanto, em caso de dúvida, a biopsia com estudo histopatológico é mandatória.
Um alto índice de suspeição é obrigatório em casos de melanoma da unha. Apenas um diagnóstico precoce pode permitir um tratamento atempado e adequado, assegurando muitas vezes a cura no caso de ser in situ.
Ana Filipa Duarte
Dermatologista
Centro de Dermatologia Epidermis, Instituto CUF, Porto
Consulte ainda o folheto da APCC, para saber mais acerca de cancro cutâneo e como identificá-lo.