"... Como assim é mais caro manter uma alface longe de pesticidas do que criar uma vida inteira de um pintainho?..."
Uma alimentação livre de carne, peixe, ovos, queijo e leite em Portugal é ainda considerada pela maioria como insanidade. Na ideia de muitos profissionais da restauração, isso deixa disponível como opção uma salada de alface e tomate. Com sorte, com cenoura. Felizmente já começam a surgir novos restaurantes e cafés vegetarianos ou veganos no centro de Lisboa por exemplo,e já existem algumas opções. No entanto, deixem-me contar-vos sobre a minha experiência em Berlim.
Enquanto que em Portugal já existiem algumas opções normalmente na forma de buffet, são ainda poucos os restaurantes que apostam em pratos realmente diferentes, requintados, inovadores e bem apresentados como osque vi na capital da Alemanha. Além disso, no que toca às sobremesas geralmente só se encontram as vegetarianas (que incluem ovos ou leite). As outras componentes também muito procuradas por veganos saudáveis, que se preocupam com mais do que a ética, são também ainda difíceis de escrutinar - sem glúten, sem açúcar refinado, ou crudívero (sem ser cozinhado). Pois deixem-me dizer que encontrei facilmente todos estes requisitos juntos. Consegui almoçar com prato, bebida, sobremesa e café completamente vegano, sem açúcar, sem glúten e crudívero. Assim, tudo junto!
Enquanto em Portugal é preciso bem pesquisar, em Berlim tornou-se difícil escolher. Além destes lugares mais especializados e saudáveis, existem ainda outras opções vegetarianas mais banalizadas em cada esquina. Falafels, sandes vegetarianas, cafés que servem sempre uma alternativa de leite vegetal ao invés do de vaca.
Os pontos negativos? Assim como em Portugal, o preço. Restaurantes deste tipo ou lojas de produtos bio ou especiais são sempre mais caras. Na Alemanha passa-se o mesmo mas à escala - fica ainda mais caro. E não seria revoltante se fizesse sentido. Mas não faz. Os valores estão trocados. Seria de esperar que um prato feito à base de vegetais, que por vezes nem vai ao forno, fosse mais barato que algum prato de carne ou peixe que envolve o valor da vida de um animal. Seria de esperar que alimentos que não tiveram pesticidas ou tratamentos fossem mais baratos que os tratados. Assim como já foi em Portugal, nos dias em que a fruta tinha sabor. No entanto, tudo se resume à lei da oferta e da procura. Um frango de fábrica vale menos que uma couve biológica. Como assim é mais caro manter uma alface longe de pesticidas do que criar uma vida inteira de um pintainho? A produção em massa desfez estes valores e agora comprar um hamburguer é mil vezes mais barato que comprar uma salada!
Resta esperar pela evolução. Ou talvez seja mais correto neste caso chamar-lhe retrocesso. Retrocesso às coisas naturais, da terra, à carne como excepção e não como pão nosso de cada dia. Esperar que estas opções hoje raras se tornem na regra, que surjam mais restaurantes, mais mercados, mais feiras, mais inovação e conceitos fora da caixa. E esperar que estas opções maravilhosas que vi em Berlim cheguem a Portugal e ao mundo e se tornem acessíveis pela procura em massa.